quinta-feira

António Costa ficou refém do seu próprio destino


Quando António Costa resgatou o PS a António José Seguro muito boa gente, dentro e fora do PS, à esquerda e à direita, e até ao centro, pensou que ele se iria desvincular da CML - resignando ao cargo a fim de libertar tempo, concentração e recursos para se dedicar exclusivamente à intensa tarefa de preparar um Programa de Governo Alternativo à actual situação, que é uma miséria, e, desse modo, preparar o caminho para a vitória nas legislativas. 

Mas não foi isso que aconteceu: Costa continuou na CML, embrulhado que está em propostas e discussões que só o desgastam politicamente. A exorbitância da taxa da água é um absurdo, procurar isentar o SLB de taxas devidas foi outro absurdo ainda maior, pela desigualdade social que criaria, e não dispor ainda de um Programa de Governo com base no qual dê ideias, projectos e esperança à sociedade - fazem de António Costa alguém que ficou refém dele próprio e do seu destino. 

E o mais paradoxal desta situação auto-paralisante, é que ela decorre duma opção política e pessoal após, precisamente, ter resgatado o PS a Seguro, que se considerava não estar à altura dos desafios do país e do embate com o Governo, especialmente no âmbito dos debates parlamentares, onde também não tinha uma equipa sólida e coesa. Pois a que estava foi a herdada ao tempo de Sócrates. 

A demonstração de que António Costa ficou refém de si próprio é que, hoje, por ter afirmado um conjunto de verdades banais acerca do Investimento Directo Estrangeiro (chinês e falando para empresários) em Portugal, e porque não disse - de imediato - que isso não tirou o país do abismo em que ele (ainda) se encontra, foi imediatamente metido num colete-de-forças pela rapaziada do Portas, que está habituada a fazer manchetes e a queimar pessoas, projectos e intenções - à semelhança do que acontecera ao tempo em que Paulo Portas era o director do Indy - em que, semanalmente, tinha processos em tribunal por difamar pessoas, a maior parte delas ligadas ao cavaquismo - com quem hoje, Portas, ironicamente se dá.

Numa palavra: Costa deve concentrar os seus recursos e esforços nas legislativas, o que o levará a afastar-se cada vez mais dos assuntos e problemas da autarquia, que hoje lhe vão minando o caminho. Deverá ainda rodear-se duma equipa de assessores com mais cosmovisão e experiência de vida, de molde a preparar melhor as ideias e as mensagens a serem transmitidas em público. 

Todos nos recordamos do que um dia Manuela Ferreira Leite disse no American Club, diante empresários e homens de negócios influentes em todo o mundo (suspender a democracia por seis meses e governar em ditadura, fazendo assim todas as reformas que Portugal precisaria). Com isto não quero comparar A. Costa a uma versão cavaquista de saias, o que pretendo sublinhar é que o edil da capital terá de redefinir alguns aspectos da sua vida pública e da sua agenda política e, por extensão, terá também de ter mais tempo para si a fim de pensar mais e melhor nas mensagens que pretende transmitir à sociedade portuguesa. 

Continuando a querer fazer bem a duas coisas ao mesmo tempo, nos Passos do Concelho e no Largo do Rato, o resultado que se afigura previsível será mais do mesmo, e isso será dar o ouro ao bandido e reforçar a possibilidade de a coligação contra-natura cds-psd reganhar terreno e anular a diferença que hoje a separa do PS. 

De facto, o caminho está aberto para António Costa, mas ele terá também que saber que se trata dum caminho repleto de espinhos. 

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