Máscaras. Evocação de Álvaro de Campos - Tabacaria -
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime. [...]
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
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Obs: O problema do uso intensivo das máscaras é que nunca sabemos, ao certo, quando as devemos tirar; e se quando as tiramos - o que fica - já - do resto que se ocultou no jogo de espelhos e de ilusões em que a vida se transformou. Creio, pois, que a melhor máscara ainda é a nossa própria pele, e mesmo essa tantas vezes nos engana e ilude.
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