João Cravinho: “A corrupção em Portugal é uma questão tumular, dos cemitérios”
O ex-ministro acusa as instituições de se “comportarem
como os três macaquinhos, cegos, surdos e mudos” quando se fala de corrupção
Corrupção é uma das palavras do ano emPortugal, mas os poderes públicos ficaram mais ou menos quietos na sequência devários escândalos. Se em Espanha Mariano Rajoy pede um pacto de regime paracombater a corrupção e em Itália Matteo Renzi aprovou leis mais duras contra umdos cancros do país, em Portugal ninguém se mexeu muito.
João Cravinho é o ex-ministro das Obras
Públicas que em 2006 afirmou que Portugal se estava a “italianizar” e em 2007
apresentou um pacote anti-corrupção que foi rejeitado. Agora mostra o seu
espanto: “Como é que é possível que as instituições democráticas estejam como
os três macaquinhos, cegas, surdas e mudas? O povo português merece mais do que
isto! Nós, que nos orgulhamos dos nossos índices civilizacionais, como é
possível vivermos assim?”. O ex-ministro das Obras Públicas constata que “em
Espanha, Itália, até no Brasil, a corrupção é questionada, problematizada. Aqui
é tumular, é de cemitérios”.
Em declarações ao i, João Cravinho defende
“um pacto constitucional contra a corrupção” entre os partidos. “A ideia de que
a corrupção é uma questão de polícia é de uma indigência política e de uma
irresponsabilidade política que eu não compreendo”. Esta reacção “tumular” à
corrupção pode “ter efeitos explosivos para o funcionamento da sociedade”:
“Reduzir a corrupção a um caso de polícia é uma coisa de um primitivismo ao
nível do homo erectus”.
Condenando a “débil reacção dos partidos
políticos e das instituições democráticas” perante o fenómeno – “querem varrer
tudo para debaixo do tapete” – João Cravinho afirma que “às suspeitas que toda
a gente tem de que estamos só a conhecer a ponta do icebergue”, as instituições
dão uma resposta “impotente” e “não se empenham tanto quanto se deviam
empenhar”.
Em 2006, João Cravinho falou pela primeira
vez da “italianização do regime”: “A ideia que eu tenho agora é que, de facto,
estamos hoje muito mais perto dessa italianização do que há oito, nove anos”.
O ex-ministro aponta o despacho de
arquivamento do processo dos submarinos: “Ficou clara a incapacidade do
Ministério Público para provar o que o sistema judicial alemão provou,
referindo-se a Portugal. [...]
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Obs: Medite-se nas palavras e nas intenções de João Cravinho e no modo como foram esquecidas ou secundarizadas dentro do seu próprio partido. O que indicia não haver uma verdadeira e efectiva intenção de expurgar a corrupção - ou limitar os seus efeitos - entre nós.
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O ex-
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