sábado

O (novo) Labirinto da Saudade - por Eduardo Lourenço -




Nos anos 60 e 70 do séc. XX, por força da guerra colonial empreendida por Salazar a fim de manter o Império, ou a imagem que alguns faziam do que ele deveria ser na preservação da nação e do Estado português, a expressão mais ventilada entre "os que estavam" e "os que partiam" era - "Adeus, até ao meu regresso." Frase que depois foi ampliada nos documentários coloniais entretanto realizados e apresentados entre nós. 
Quarenta anos depois, e já em clima de paz (aparente), a Europa, e Portugal em particular, obrigou cerca de 350 mil almas a emigrar, muitos dos quais quadros qualificados que não encontram um projecto de vida em Portugal. Aliás, o próprio XIX Governo (in)Constitucional chegou mesmo a convidar os portugueses a pirarem-se daqui para fora, coisa que Salazar nunca fez, salvo através da situação militar de defesa das colónias que obrigava a esse destacamento de efectivos ultramarinos. 
Nesta medida, Passos Coelho ainda conseguiu ir além de Salazar na remessa de portugueses para o estrangeiro, só que no passado ainda havia (bem ou mal!!!) um desígnio, uma ideia estratégica para a defesa e promoção da nação portuguesa, já que tudo se deveria sacrificar à manutenção do Império colonial português, e por ele se perderam milhares de vidas. 
Hoje, ao invés, e sob a batuta dum PM que não faz ideia nenhuma do que é e para onde vai Portugal, enviam-se as pessoas para fora como se fosse gado amontoado em camiões que os transportam para algures. Não há desígnio, não há projecto, não há estratégia. Nada. Os que vão, ou são obrigados a partir, apenas levam as suas qualificações, a sua fé, o seu medo e também a sua saudade - pelos que ficam. Os aeroportos espelham isso mesmo: pessoas e mais pessoas, de várias gerações, destroçadas a chorar pelos que partiram e agora, de forma perene, chegam - para logo partir. 
Já não estamos em África, na Europa somos apenas uma ponta e um resto peninsular  sem expressão comunitária, e nunca seremos aquilo que sonhámos ser nela, pelo que a imagem que hoje Portugal dá de si é essa mesma e é lamentável: um país de emigrados compulsivos, chorando na plataforma das chegadas do aeroporto neste nosso novo labirinto da saudade.
Esta é a miserável condição a que Portugal chegou em 2014, após andarmos três a escavacar a economia e o tecido social que a alimentava. 
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