terça-feira

A Prisão Dourada: a liberdade

Retive hoje duas imagens veiculadas pela caixa negra: uma relacionada com os indultos, e para o efeito a alegada ministra da Justiça pespegou com os processos sobre a mesa de trabalho presidencial do sr. Silva, para demonstrar ao povinho que trabalham imenso; e uma outra imagem - mais de teor subjectivo e interpretativo - que decorre da primeira, ou seja da falta de justiça efectiva em Portugal. Aliás, este problema é ainda mais grave do que o desemprego, pois é também por causa da deficiente justiça  - quer na dificuldade do seu acesso, morosidade e custas - que as pessoas (singulares) se sentem injustiçadas e inúmeras são as empresas (pessoas colectivas) que são obrigadas a falir porque os processos não são dirimidos a tempo e horas, como deviam, facto que acarreta custos incomportáveis.

Daqui decorre uma constatação óbvia: a justiça em Portugal é uma roleta russa, e, por vezes, uns morrem e outros sobrevivem, como na guerra do Vietname, sem que daí decorra um fio de racionalidade na administração e aplicação da justiça. Façamos o seguinte exercício: quantos são os agentes políticos, muitos deles com relações íntimas com ex-ministros e ex-conselheiros de Estados - que entretanto enveredaram por uma actividade de "banqueiros" neste "Portugal dos Pequeninos" (vide o ex. gritante de Dias Loureiro e outros ex-cavaquistas) cuja actividade, no âmbito do ex-BPN, foi altamente lesiva para o erário público e para o conjunto da economia nacional. 

Onde se meteu a justiça nesses casos!? Fechou, fez greve de zelo, teve medo, não investigou, atravessou-se a maçonaria, pressionou o Opus Dei, não teve meios para coligir prova... O que aconteceu, de facto?! Podia aqui dar mais exemplos, mas poupo-me a essa descrição, na medida em que os portugueses mais atentos já os conhecem bem e sabem que andam por aí, à  espera que a justiça os investigue e julgue, como devia.  

Desta segunda constatação decorre a ideia de que muitos dos agentes políticos que hoje ainda se encontram em funções, após muitos anos andarem a servir-se do Estado e a fazer carreira à sua sombra (mais do que servi-lo e prestigiá-lo, promovendo o bem comum!!) - deveriam estar a cumprir pena e não no exercício de funções políticas, em certos casos ocupando as mais elevadas posições no aparelho de Estado. 

Nuns casos, para àqueles que aguardam justiça detidos, a prisão pode ser um castelo rodeado por muros, em que se pede aos presos para fruírem aquele espaço, ainda que não possam sair de lá; noutros casos, para àqueles que estão erradamente à solta, ocupando indevidamente altos cargos do Estado, e por erros grosseiros, laxismo e corrupção na e da justiça, é o MEDO que os acompanha e persegue, ainda que vivam em (aparente) liberdade. 

Em ambos os casos, por acção ou omissão, é uma nação inteira que sai envergonhada, molestada, pisada de toda esta situação decorrente da falta de justiça que hoje grassa em Portugal. 

Uns estão na cadeia sem culpa formada, e foram para lá mandados de modo a que se investigue aquilo de que não se tinha prova (como se fazia ao tempo da Inquisição!!!), além de ser mais facilmente mandar calar o detido estando este preso; outros, andam por aí, ocupando altas funções do Estado, e contribuíram, directa e indirectamente, para mandar bancos abaixo, subtrair centenas de milhões de €uros ao erário público, destruírem o tecido económico nacional, mandar uns bitaites sobre a res pública e, ainda por cima, gozam com a justiça que, verdadeiramente, não existe em Portugal. Ou melhor, só existe para executar vendettas, para praticar uma "justiça" discriminatória, logo não é justiça. 

Perante esta falta de liberdade, agora em relação àqueles que deveriam estar presos e ocupam altas funções do Estado, é lícito perguntar se poderá haver maior injustiça e insulto do que este entre nós?! 

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