A literatura e a política. Notas do diário de Pedro Paixão - Saudades de Nova Iorque
Seguindo o lema escreve o que vês, de Ruy Belo, Pedro Paixão conta o que pensou e sentiu a 20.10.99, na Foz do Douro, e que podia bem ser hoje um reflexo do sentir de muitos de nós, especialmente no quadro da relação cidadão-Estado, pautada pela total desconfiança nos agentes políticos e nas instituições que, supostamente, deveriam infundir uma mensagem de confiança e esperança no futuro.
- Reza assim:
- Parti o indicador da mão direita. Houve uma inundação em casa que pôs os livros em perigo. Bati duas vezes com o carro. Fui chamado às finanças e tinha o bilhete de identidade caducado há anos. O meu tio preferido morre, semana a semana, dia a dia, com um cancro no pâncreas. Zanguei-me com um amigo para sempre. É a altura do ano em que a vida me bate sem descanso. É preciso resistir, inventar forças. Parece de propósito, um conluio em que as divindades me castigam, troçam de mim, da minha fraqueza, da minha ridícula ousadia. É preciso esperar pela altura em que voltarei a acreditar que um destino me pertence. Se conseguir lá chegar.
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