António Costa e António José Seguro: os três debates. O balanço possível
O abraço da morte (política)
Dos três debates - direi que o edil da capital ganhou dois: o 2º e o 3º, este último na RTP, em que Costa, sem se mexer muito, mas mantendo a gravitas de Estado, cilindrou António José Seguro, no estilo, na forma e na substância, ainda que aqui, atentas as propostas de um e de outro, não haja diferenças de fundo entre ambos a assinalar. Posto que ambos têm como prioridade combater o flagelo do desemprego, por a economia a crescer, enfim, criar riqueza. Embora a fórmula de conseguir aqueles objectivos seja ligeiramente diferenciada, pois Seguro fala em "reindustrializar" o país apostando nos têxteis, nas agricultura, nos moldes e, claro, na sociedade digital integrada na Era do conhecimento (que ele apresenta como uma grande novidade); Costa, por seu turno, apresenta outra formulação assente na "agenda para a década" que visa apoiar as empresas, financiá-las mais eficientemente e dinamizar o sector da construção civil para requalificar os espaços urbanos, oportunidade de crescimento, aproveitando aqui a sua experiência de autarca de Lisboa, capital do país, o que lhe confere uma importância singular de gerir um mega-ministério num país ainda "a-laranjado".
Se no 1º debate rendeu politicamente Seguro ter usado o argumento da deslealdade e da traição interna, encostando Costa às cordas, a manutenção desse argumentário no 2º e 3º debates, incomodando os telespectadores mais neutrais, revelou o azedume de Seguro, que parece ter esgotado aí a sua estaleca política. Foi pena, acusou Costa (no 2º debate), que Seguro não tenha usado dessa energia para combater as políticas públicas erradas de Passos Coelho no Parlamento, em cujo hemiciclo perdera quase todos os debates parlamentares. Daí a acusação de Costa a Seguro, por este ter deixado o PS "órfão". Um sentimento, aliás, em que muitos militantes, simpatizantes e eleitorado flutuante se revê, por isso tenderá a votar Costa nestas primárias. Um argumento também reforçado com a magreza dos resultados das eleições europeias, em Maio último, cuja responsabilidade é assacado à liderança pífia de Seguro.
Depois Costa soube tirar partido da sua experiência política, quer como Ministro da Administração Interna (no combate à corrupção) - que Seguro utilizou para o envolver nas teias da reforma eleitoral, quer ainda na defesa que fez aos milhares de militantes que o apoiam e cuja idoneidade ele não pode, como um notário, certificar a sua onerabilidade. Houve aqui um efeito perverso que a acusação de Seguro não contou.
Aqui a fulanização feita por Seguro revelou algum amadorismo na política, pois esta não se faz na esfera pública como quem está num ambiente intimista, como se se tratasse de um jantar lá em casa em que muito do que é permitido, aceitável e válido dizer nesse registo o é censurável quando o palco é a esfera pública.
No fundo, ambos pretendem combater o desemprego, por a economia a crescer, repor os cortes aos pensionistas e funcionários públicos, dispor de um Estado social moderno e eficiente - que o XIX Governo (in)Constitucional tem vindo a esbulhar aos portugueses nos últimos 3 anos, desde 2011.
Deste modo, se na substância convergem para os objectivos estratégicos que Portugal precisa para se desenvolver nesta fase pós-troika, resta então saber o que os distingue, ou por que razão os eleitorados irão preferir um e preterir o outro.
Já na recta final, Seguro comete um outro erro de palmatória, além daquele que consistiu em crucificar um apoiante em particular, que nomeou e é administrador do BES, como quem combate a promiscuidade entre negócios e política, e que consistiu em comparar um combate político interno (entre ele e Costa) com o ainda PM, que nada tem a ver com o PS.
Em suma: o estilo, a serenidade, a benevolência, o sorriso quase permanente de Costa, que contrastou com o permanente azedume de Seguro, além da sua gravitas de Estado - fazem do edil da capital alguém melhor preparado para o embate futuro nas legislativas de 2015, contra o PM mais incompetente de que há memória no Portugal pós-25A. Uma impreparação e incompetência só ultrapassadas por um semestre negro em que o País caiu nas mãos de um tal e - "misericordioso" - Santana Lopes, após Durão Barroso ter desertado de Portugal para ir para a Europa escavacar quase duas décadas de plena integração europeia, a última das quais foi plenamente conseguida pela mãos laboriosas de Jacques Delors.
Se esta análise colher apoio nos factos, sou tentado a afirmar que neste último debate A.Costa foi "comer" eleitorado ao PCP, ao BE, ao PS de Seguro, a algum eleitorado movediço do CDS que já não aguenta mais as palhaçadas de Paulinho Portas e, at last, fidelizou eleitorado mais hesitante do PS que agora será chamado a tomar uma decisão importante para o seu futuro, mas também para o futuro colectivo dos portugueses, ante um governo moribundo que só existe porque ainda está ligado à máquina de oxigénio de Belém, a qual representa, aliás, o 2º cadáver adiado do sistema político nacional.
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