quinta-feira

O reconhecimento lusófono de um sanguinário corrupto: um crime contra a Humanidade aclamada pelas democracias pluralistas


O peso do dinheiro, de facto, não conhece limites. Todos se vergam ao vil metal. A entrada de Obiang para a CPLP - com quem não tinha ou tem comunhão de valores e de princípios, nem pratica a língua comum (o português), representa um facto excepcional que rompe uma linha clássica de fazer diplomacia. 

Doravante, tudo é possível, basta que quem pretenda realizar um objectivo no plano das relações internacionais, por mais absurdo ou incongruente que seja, tenha o poder ou a influência de afectar recursos financeiros volumosos para determinados fins, que logo esse objectivo se atinge ou, pelo menos, se dissolve a resistência que se lhe opõe.

Talvez nunca como hoje este tipo de crimes morais, éticos, políticos, civis, enfim, crimes contra a Humanidade, se praticaram com tanto despudor e desfaçatez, com a agravante de os seus autores morais e executantes obterem a anuência de democratas e da generalidade dos actores influentes que povoam a paisagem da Sociedade internacional contemporânea. 

A entrada deste sanguinário corrupto para a CPLP, ante a aclamação dos chefes de Estado de países democráticos e praticantes do rule of law representa, acima de tudo, uma nova categoria de crime contra a Humanidade: a desfaçatez. A tentativa de branquear crimes graves em actos de gestão corrente dos negócios do Estado. A ideia de que tudo é possível, basta que se queira e existam recursos financeiros que acompanhe aquela vontade. Deixou, pois, de haver limites em política. Na prática, a política ficou reduzida a uns barris de crude e ao gás.

Durante uns anos Obiang bateu com o nariz na porta da CPLP, mas assim que começou a cheirar a petróleo as diplomacias começaram a abrir as alas ao ditador, e este infiltrou-se no seu seio, como uma cobra viperina que pode contaminar o conjunto. Do que pode resultar desta adesão?

- mais negócios no Atlântico Sul; um aumento da visibilidade da CPLP para além da língua portuguesa; mais oportunidades para as empresas portuguesas que operam na região e no sector energético... 

E se a lógica dos negócios, que agora parece promissora dentro desse espaço de cooperação, subverter a lógica da condução política e todos ficarem reféns dos termos do petro-poder?!

Podemos partir do pressuposto que a cobra se infiltrou no galinheiro para comer todo o galinheiro. E não para permitir a reprodução de condições que fizesse aumentar a prole no galinheiro. 

A política, sobretudo em África, onde o tribalismo é uma determinante relevante na estruturação das decisões públicas, e onde as instituições dependem de ditadores sem que ninguém os possa controlar e/ou vigiar, está repleta de escolhos. Contudo, não podemos esquecer que em todo este processo que culminou com a entrada da GE na CPLP,  houve resistências ao ditador, factos que Obiang não esquece. Uma vez "dentro" da organização poderá querer combater ou eliminar algumas vozes dissonantes, como a portuguesa, sobretudo agora em que o ditador se sente forte e legitimado pela organização, o que constitui o ambiente ideal para se vingar daqueles que nunca apoiaram a sua adesão à CPLP.

Não podemos esquecer que a estrutura mental dum ditador não muda a sua natureza, ela apenas se adapta consoante está a operar na arena externa ou na esfera mais doméstica. O ditador poderá agir cordialmente por uns tempos, mas isso não quer dizer que actue sempre dessa forma.

Aguardemos para conhecer as reais e virtuais vantagens de colocar uma serpente de sete cabeças num galinheiro que, em abono da verdade, nunca foi plenamente democrático (Angola!!), ainda que tivesse em comum a prática da língua de Camões (agora subvertida). 

Em rigor, esta decisão não deixa de ser um crime contra a Humanidade estranhamente aclamada pelas democracias pluralistas que dizem professar o rule of law

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