Liberdade(s)
A liberdade, apesar de ser um valor e um fim em si mesmo, não deixa de ter uma função instrumental e relacional, daí falar-se em liberdades, no plural. Ou seja, liberdades políticas, liberdades económicas, liberdades/oportunidades sociais, religiosas e assim por diante.
Uma pessoa quer a liberdade para lhe dar um sentido: criar, trabalhar, ser Feliz, como diria Aristóteles. Pelo que cada uma daquelas dimensões de liberdade serve de complemento de umas em relação às outras: faz sentido votar se for para construir uma democracia económica, social, cultural, com respeito pelas minorias, etc. Já não fará sentido votar para verificar depois que são os próprios titulares do poder político, com o PM à cabeça, violar princípios básicos da Constituição da República Portuguesa (que demonstra grosseiramente desconhecer - porque é ignorante e está de má fé) que o estarola se comprometeu respeitar quando foi empossado para o cargo.
Daí que a Liberdade só faça verdadeiramente sentido se for para construir o desenvolvimento na comunidade e responsabilizar os principais actores políticos, que deveriam assegurar esses tais níveis de qualidade de vida e de bem-estar, hoje completamente trucidados, o que desmaterializou o esprit e as conquistas de Abril. Donde a importância da sua reinvenção.
Dito isto, presume-se que não queiramos a Liberdade só para gritar e respirar, e andar nas ruas, de mãos nos bolsos ao pontapé às pedras, sem medo de aparecer um "polícia mau" de cacete na mão, para nos bater. Queremos a Liberdade para construir algo mais, um futuro, pessoal e colectivo. Queremos a liberdade para nos transcendermos, para nos superarmos.
Todavia, há uma séria limitação que este Governo tem explorado junto dos portugueses, e essa limitação passa por permitir que eles tenham liberdade de expressão, de movimento (entre outras liberdades), mas o Estado, tal como tem sido gerido desde 2011 pelo XIX Governo (in)Constitucional, tem procurado atingir os portugueses na sua liberdade de consumo, i.é, naquela área da liberdade individual formada pela dimensão da liberdade do consumidor, que impede que os mercados - e a economia - na sua globalidade funcionem. Daí a carga de impostos mais onerosa da Europa.
Desse modo, temos cidadãos privados de consumo por ausência de poder de compra, e cidadãos assim não têm dinheiro para comer, estudar, ter acesso à saúde, à cultura/educação e são forçados a emigrar, aquilo a que o governo - na sua novilíngua bárbara - designa de oportunidades de trabalho abroad.
Cidadãos assim estão paralisados, e esse tem sido o objectivo de Passos Coelho & Portas: criar e institucionalizar o MEDO em Portugal, pois só assim, sem resistência e oposição social, fazem o que pretendem do Estado (exterminá-lo) e privatizar todas as empresas públicas e serviços numa lógica ultra-liberal, selvagem. Sem que daí resulte, como contrapartida, uma melhoria do serviço e um abaixamento de preço - prestado às populações. O que se passa com o sector das Águas e que envolve algumas autarquias do país - é surrealista.
O paradoxal nesta relação com a liberdade - é que os homens libertados (todos nós que vivemos hoje em democracia pluralista e em liberdade) e nos tornámos livres - estranhamente, não sabemos o que fazer com ela. Não sabemos que finalidade dar à Liberdade - enquanto projecto político, assumido colectivamente por um povo.
O que nos remete para uma conclusão ainda mais paralisante: libertámo-nos, de facto e de iure em 1974, mas a libertação em si mesma acabou por não ser um acto de liberdade, a avaliar pelo estado a que chegámos, e é essa terrível circunstância que hoje nos deixa pregados ao chão.
Afinal, queremos a merda da Liberdade que hoje temos para quê?!
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PS: Presumo que queremos a Liberdade para lhe emprestar uma finalidade superior àquela que é vertida num discurso de circunstância na AR por parte de um ex-pidesinho - agora preocupado em fazer a pedagogia da Democracia, da Liberdade e do Desenvolvimento. Basta de farsa.
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