terça-feira

Durão Barroso e o meeting da recepção e da alegria

Nos vastos métodos e técnicas da comunicação política, visando a manipulação do psiquismo colectivo, há vários mecanismos que importa recordar na sequência da visita do presidente da Comissão europeia a Portugal, onde se passeou em pleno acto cénico preparativo de pré-campanha eleitoral presidencial. 

Assim, naquele desfile de técnicas de manipulação política sobre as massas humanas, encontramos o clássico meeting da recepção - que visa criar um bom ambiente junto dos anfitriões oficiais indígenas, leia-se Governo e Belém (Cavaco -que fez campanha por ele) - que aclamaram o maior desertor político da história do pós-25 de Abril, e cujo processo instituiu a 3.ª República; há os meeting de cólera - em que se denunciam personagens que, presentes nesses actos oficiais, ficam cobertas de vergonha (em Portugal há pouca coragem política para este tipo de motivação e vontade de verdade, mas era o que verdadeiramente Durão merecia ouvir caso o locatário de Belém fosse um homem de esquerda); há ainda os chamados meetings de alegria - em que se aclamam os chefes e as vitórias sobre os adversários, e em que o elogio recíproco integra a lógica mutua da auto-promoção para efeitos políticos (foi o que Cavaco fez a Barroso elogiando o seu medíocre trabalho em Bruxelas - na sua passagem por Portugal).

Até na província, os agitadores modernos organizam sessões onde velhos descrevem os horrores do passado. Nesses happenings, levados ao máximo paroxismo, certos agentes políticos não hesitam em recorrer aos velhos métodos da Revolução Cultural  que conduz(iu) à recitação pré-religiosa das máximas de Mao Tsé-Tung. Sendo certo, que até o mais insignificante episódio serve de pretexto para a doutrinação, e através desta se procede à manipulação das massas humanas em que se procura convencer num determinado sentido, cujos propósitos são complementados pelos métodos teatrais, matematicamente controlados.

Deste modo, procura reconstituir-se, - segundo algumas daquelas fórmulas da propaganda maoista e estalinista que caracterizaram não só a idolatria do chefe como também o martelamento dogmático e o culto do elogio completamente despropositado (como Cavaco fez a Barroso), porque não encontra suporte nos factos e na realidade vivida, - uma identidade política e uma realidade cultural alternativa que, de facto, não existiu. 

Ora, é este processo de ficção política, que está em curso entre nós e tem como agentes activos Belém (Cavaco), S. Bento (Governo) e o próprio (ainda) presidente da CE (que deveria fazer um esforço de neutralidade e imparcialidade, a que está legalmente obrigado) - que se designa de manipulação de identidade e reconstrução de uma realidade política alternativa, a qual é ficcionada para servir exclusivamente os interesses pessoais e as carreiras políticas dos visados, que em nada convergem com o verdadeiro interesse nacional de Portugal e dos portugueses. 

Com efeito, foi nesse caldo de cultura que Durão Barroso - (sponsorizado por Belém, que vê nele o eterno delfim político) - fez lamentáveis incursões à educação ministrada ao tempo da ditadura salazarista, que replicou milhões de analfabetos e pobres em Portugal, - procurou reconstruir a sua nova identidade política, cuja máscara, nos próximos meses, servirá de frontline para lançar novos ensaios de simpatia visando saber se os portugueses já lhe perdoaram o grave erro que cometeu em Julho de 2004, quando desertou para Bruxelas - onde fez dois maus mandatos, como se sabe.

Enquanto não se apresenta um novo balão de ensaio para testar a putativa simpatia dos portugueses pelo ainda presidente da CE, Durão Barroso vai manipulando os serviços de comunicação da Comissão Europeia a seu bel prazer, demonstrando que até estes serviços estão ao serviço pessoal daquele que, um dia, foi maoista, MRPP, depois social-democrata e, doravante, quer "apenas ser" o presidente da república de todos os portugueses. 

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