segunda-feira

Cavaco e a teoria do susto




É conhecida a posição do PR (que é só presidente de alguns portugueses) acerca da saída da troika de Portugal, a qual deverá fazer-se acompanhar por um programa cautelar, uma espécie de seguro ou linha de crédito a que o país poderia recorrer caso não tivesse liquidez para respeitar os seus compromissos. 

Em apoio desta medida, o dito cavaco advoga também a existência de um acordo interpartidário -  leia-se entre PS e PSD - para reforçar aquelas garantias internacionais, mesmo sabendo que a forma de gerir o OGE e de atingir as metas do tratado orçamental são distintas entre os dois partidos. No fundo, Cavaco quer um acordo à força só para ficar bem na fotografia e no papel de medianeiro nesse putativo acordo - que jamais se realizará por razões tão óbvias que não valerá a pena dissertar mais sobre a sua impossibilidade técnica e política. 

São conhecidas também as démarches que cavaco fez relativamente ao Manifesto dos 70, em que dois dos seus consultores tomaram a liberdade de emitir a sua opinião, por acaso convergente com aquele manifesto e em apoio da reestruturação da nossa dívida, e tal foi o suficiente para que as pressões de Passos Coelho sobre o PR se fizessem sentir. O resultado dessa pressão foi a demissão imediata de Sevinate Pinto e de Vitor Martins, os quais deixaram de integrar o grupo de consultores da PR. 

No take seguinte, o Sr. Silva dá-se ao luxo de, evocando a sua experiência, excluir a via da reestruturação da dívida porque, alega Cavaco, os investidores internacionais associam imediatamente aquele mecanismo ao perdão da dívida. Eis a "rica" experiência de Cavaco nos seus contactos internacionais. 

É melhor quando desmaia...

Em face desta posição do PR, que se me afigura errada, importa dizer que Portugal não é a Guiné ou a República Centro Africana, nem sequer há um historial de incumprimento dos nossos acordos internacionais ou o desenvolvimento de conflitos decorrentes desse tipo de incumprimentos ao nível das organizações internacionais. Pelo que reduzir uma divergência doutrinária, política e técnica de cavaco relativamente a grandes economistas que integram aquele Manifesto e postulam a reestruturação da dívida - alongando o seu prazo de pagamento e aliviando a taxa de esforço dos juros - tendo como pressuposto aquela mistificação (associar a reestruturação da dívida ao seu perdão/irresponsabilidade) revela a má fé de Cavaco no tratamento das questões económicas e financeiras internacionais, em que ele, supostamente, deveria ser mais sabedor e cauteloso. 

Não estamos perante o conflito Norte-Sul das décadas de 70 e 80 do séc. XX, em que esse argumento era muito explorado para fazer a miserável correlação que Cavaco faz noutro contexto, a propósito do seu próprio país e em que ele atribui mais importância à sua carreira política do que ao verdadeiro interesse nacional que deveria defender. 

Conclui-se que, afinal, por maior que seja a experiência de Cavaco, ela revela-se desajustada e irrealista ao caso português. O seu único efeito é o de assustar os portugueses que ainda dão algum crédito intelectual aos temores de Cavaco, que são os de não conseguir terminar o seu medíocre mandato presidencial com alguma dignidade.

Cavaco já há muito que não preside aos destinos de Portugal, a sua única tarefa é, tão lamentável quanto perversa, e consiste apenas no SUSTO. 

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