O partido Smart do Largo do Caldas. Um projecto sem finalidade
Paulo Portas é o cabo indiscutível do seu partido: manda nas pessoas, burila algumas fórmulas jornalísticas (sob aparência de políticas públicas) para manter a coesão interna no partido que dirige, comunica eficientemente com a sociedade, capturou o aparelho de Estado para distribuir lugares aos seus mais próximos fiéis, mas isso não é condição necessária para fazer do CDS um partido verdadeiramente útil ao país e aos portugueses. Pelo menos, não tem sido.
Vejamos sumariamente cada uma dessas variantes: Portas é o líder, mas qual tem sido, em rigor, a vantagem de o XIX Governo (in)Constitucional contar com a sua prestação em altas funções públicas?!
- O estrondo com que Portas se demitiu mereceu críticas internas, alguns do seus mais jovens colaboradores não conseguiram esconder a precipitação do seu chefe nessa tão lamentável quanto "irrevogável" demissão - cuja finalidade - aproveitando a boleia da demissão de Gaspar - foi exercer forte pressão sobre o alegado primeiro ministro de modo a que este abrisse mais lugares no Governo ao despudorado assalto que o partido dos 6% exerceu sobre o débil PSD. Portas, como que em articulação com a troika, operou como uma tenaz e exerceu sobre Passos Coelho o efeito da bossa do camelo.
Além de se ter tratado da demissão mais onerosa para o erário público que jamais se viu em Portugal desde 1974 contribuindo, assim, para agravar os indicadores socioeconómicos da economia portuguesa que seria suposto aliviar.
- Portanto, Portas é, de facto, o chefe do seu partido mas governa para o vazio e em nome do vazio plasmado na ideia de retirada da troika e na manutenção da ideia de que os portugueses têm de pagar mais impostos para nos libertarmos do protectorado. É curto. Os avanços e recuos nas políticas públicas em que o CDS tem responsabilidades não são para levar a sério, tamanha a sua incoerência entre os valores que defende e as acções que adopta no terreno. Entre as "linhas vermelhas" anunciadas por Portas, designadamente na defesa dos idosos, Portas "recalibrou" tudo o que disse, e conseguiu faltar mais à verdade em meses do que governos anteriores em legislaturas inteiras.
A sua conduta é a prova de que o adjectivo "camaleão" político lhe assenta que nem uma luva. Ou seja, Portas não é para levar a sério, pois coloca sempre o seu interesse partidário e corporativo à frente do bem comum, ainda que proclame doutrina inversa para tentar intoxicar a opinião pública, que foi um vício que lhe ficou dos tempos em que dirigia o Indy e, semanalmente, difamava os vários ministros do cavaquismo (nos 90's) - cujas indemnizações depois tinha de pagar aos visados que resolviam as coisas em tribunal.
- Consequentemente, o poder, a influência e a autoridade que tem sobre os seus rapazes não se traduz em ganhos de produtividade nas várias políticas públicas em que o CDS tem uma participação específica, mormente a Segurança Social e o Trabalho, a Agricultura, a Administração Interna...
- Ou seja, é frequente ver Portas elogiar vigorosamente os seus quadros. Mas a verdade é que estes têm conseguido obter um sucesso que é, tão somente, pessoal, partidário e de tipo corporativo, e não nacional.
- Naquela feira de vaidades em que o CDS cronicamente se move, e é assim desde a sua fundação, ainda ninguém percebeu qual foi a mais-valia de Filipe Lobo de Ávila na Administração Interna; ou compreender a vantagem de ter o ministro da "lambreta", Mota Soares, numa pasta tão sensível como é a SS e o Trabalho; ou ainda, situação mais anacrónica, manter a srª Assunção Cristas na Agricultura - que nada compreende do sector e que tenderá a passar à história como a ministra da "desgravata" e do "ar condicionado", por pretender num verão passado informalizar as relações interpessoais (dispensando a gravata) e de procurar gerar poupanças no ministério que dirige poupando energia nos aparelhos de ar condic.
- São tudo aspectos acessórios que não atacam os verdadeiros problemas de cada um desses sectores.
- Daí ser legítimo concluir, até pelo facto de o CDS ter uma escassa expressão e legitimidade sociológica, apresentando-se como um partido muleta do PSD (que lhe garante a passagem das leis na AR), e com a grande cumplicidade do locatário de Belém, de as palavras do chefe do CDS, agora re-entronizado no Largo do Caldas - não corresponderem às virtudes que Portas costuma, abusivamente, apontar à prestação dos seus "altos" quadros de partido.
- Em abono da verdade, as coisas passam-se exactamente ao contrário: são os quadros do partido-unipessoal do dr. Portas - que têm beneficiado directamente de o CDS ter sequestrado os lugares do aparelho de Estado para os distribuir por aqueles mesmos quadros do partido do Caldas. Tudo tem ocorrido numa contexto sui generis, pois em inúmeras circunstâncias Portas aparecia (enquanto MNE) a desenvolver funções de captação de Investimento Directo Estrangeiro (IDE) à revelia - ou usurpando as funções ministeriais que são da competência do ministério da Economia, então tutelado por Álvaro Santos Pereira - agora substituído por Pires de Lima, alguém que tem manifestas deficiências de comunicação pública e tem revelado uma incoerência gritante relativamente aos valores e princípios que defendia fora do governo e dentro dele. Particularmente, na conhecida relação com os operadores do sector da restauração e a manutenção do valor brutal do IVA em 23%.
De tudo resulta a incoerência total das declarações de Portas com a realidade vivida pelos portugueses - que lamentam constatar os magros resultados apresentados pela incompetente prestação dos actores políticos do CDS nesta contra-natura coligação - que apenas visa dois objectivos: manter o pSD ligado à máquina, oxigenado por Belém; e manter no Governo os quadros do CDS que, doutro modo, estariam entretidos a fazer negócios entre os sectores público e privado mediado por sociedades de advogados em que participam (deputados) e que procuram prosseguir os seus manifestos interesses corporativos, alguns em avenças escandalosas que exaurem o erário público e que são profundamente lesivos da economia nacional.
Eis o vested interest que Portas nunca confessou, mas tem sido a prática corrente desde que ele chegou à liderança do partido há quase 15 anos. A sua principal função, diria mesmo missão, tem-se concentrado em projectar uma imagem de que é o seu partido (e os seus quadros) que valorizam Portugal, e não, como acontece, o exacto contrário.
É por isso que o CDS tem sido um partido lesivo do efectivo interesse nacional. A sua pseudo-reforma de Estado, qual papel-borrão, demonstrou isso à sociedade (e à saciedade), assim como também mostrou quem é, verdadeiramente, Paulo portas e de qual ideia tem para Portugal através daquele panfleto.
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