sexta-feira

O carisma de Nelson Mandela envergonham Cavaco e Durão Barroso, mas não o povo português



Quando o fundador da Sociologia moderna, Max Weber (1864-1920) desenvolveu os seus estudos sobre os tipos de Estado e de personalidades políticas e identificou o carisma, o carácter racional-normativo e os aspectos tradicionais nessas constelações jamais pensaria que, no século XX, além de Gandhi, Churchil, M.L.King (e poucos mais) satisfizessem esses requisitos cumulativamente: pela qualidade humana excepcional e o magnetismo que transmitiam às pessoas (e ao mundo), pela sua extraordinária liderança e capacidade de conduzir homens e processos sociais (de transição complexos, como o de África do Sul - que saía dum regime de segregação racial secular), pela observação do direito e das normas vigentes e, ao mesmo tempo, por se ser portador de todas as tradições e costumes do seu povo, instituições e tribos.

Mandela, como nenhum outro líder depois da II Guerra Mundial - correspondeu aquele perfil cumulativo teorizado por Max Weber - cujos ensinamentos acabaram por influenciar todas as ciências sociais e humanas. O que nos convida a evocar Max Weber através da morte de Mandela cujos ensinamentos a este se aplicam como uma luva.

Mandela tinha, de facto, a autoridade carismática e o poder legítimo de um líder excepcional, qualidades raras que inspiravam lealdade e obediência por parte dos seus seguidores, dentro e fora desse continente esquecido que é o continente africano. 

Por isso, aqui presto justo reconhecimento a esse seu carácter excepcional, indissociado, seguramente, do seu trajecto de vida pessoal em que, consabidamente, esteve 27 anos preso e depois conseguiu perdoar aos seus próprios carrascos com quem passou a conviver naturalmente - como se nada se tivesse passado de grave e de hediondo num regime de Apartheid

Por outro lado, a morte física de Nelson Mandela veio - estranha mas fundadamente - envergonhar alguns dirigentes políticos portugueses que, a dado momento das suas trajectórias políticas, e com elevadas responsabilidades públicas, tomaram decisões que foram ao arrepio das qualidades pessoais e políticas que, hoje, hipócrita e cinicamente elogiam e reconhecem ao recém-desaparecido líder carismático sul-africano.

De Cavaco, em 1987, então primeiro-ministro, sabe-se que se opôs à sua libertação incondicional, incapaz de distinguir um homem bom dos carrascos que o aprisionavam, e assim votou ao lado dos regimes ultra-conservadores do RU - de Tatcher e dos EUA de Reagen - de quem Cavaco não passava dum porteiro e moço de recados. Por isso, a história o persegue... Por isso, é, hoje, um tão mau presidente, co-autor da violação (objectiva e subjectivamente da CRP), e também por ser apenas o presidente de alguns...

De Durão Barroso, que hoje elogiou a coragem e persistência de Mandela - não se compreende como é que, em 2004, tenha literalmente desertado do Governo português que chefiava (entregando-o a um irresponsável sem qualquer legitimidade democrática) apenas para satisfazer um capricho de poder tornando-se presidente da Comissão Europeia - sobretudo alimentando essa campanha pelos fretes - assentes na mentira política - que fez aos EUA e RU - alegando que existiam armas químicas no Iraque - para, assim, granjear um apoio na comunidade internacional que favorecia a sua eleição ao cargo europeu que desejava alcançar. Enquanto se procurava promover para alçar ao poder, noutra pista, e de forma encapotada, dizia que apoiava a candidatura de António Vitorino para o cargo, que tinha um perfil muito mais competente para a função.

Cavaco e Durão, então como agora, são actores com enormes responsabilidades políticas que não hesitaram um minuto em recorrer ao expediente da mentira política - para atingirem posições de força que consolidava o seu poder pessoal, e não o bem comum de Portugal e dos portugueses que supostamente representavam. 

Por isso, Cavaco terá a maior dificuldade pessoal e intelectual em comemorar o 25 de Abril-2014 ao abrigo do valor da democracia e do consenso, que supõe uma defesa intransigente dos direitos humanos - que condenou na libertação de Mandela em 1987; e Durão, um desertor da política nacional e um subsídio-dependente da boa vontade germânica e do directório imposto pela chanceler Merkel - também encontrará uma dificuldade adicional em se fazer acreditar junto da opinião pública, já que os valores de coragem, verdade e tenacidade que reconheceu em Mandela foram, precisamente, os valores que traiu junto do seu próprio país e dos portugueses e a troco dum prato de lentilhas - visível numa Europa que, hoje, perdeu o seu status de potência global que foi no pós-II Guerra Mundial.

É por estas razões que a morte física de Nelson Mandela envergonha tanto estes dois players da política provinciana nacional, mas não envergonha o conjunto do povo português que sempre soube separar o trigo do joio. 

Talvez a letra do poema de Henley - que segue no vídeo infra - possa gerar um pingo de vergonha naqueles dois míseros representantes de Portugal - que não souberam (nem sabem) estar à  altura das responsabilidades que desempenham. 


Invictus poem - Mandela/William Ernest Henley




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