Governação = prevenção ou mediocridade
Quem não conhece (!?) o princípio da prevenção que aponta para a ideia de que mais vale prevenir do que remediar, um dito popular que também se pode (e deve) aplicar com responsabilidade à gestão da coisa pública. Fundada numa evidência do senso comum, a prevenção vem ganhando terreno, e da medicina ao direito passando pela economia e pela política confirma-se a urgência na prevenção, a qual deve estar integrada na própria governação e até nos hábitos de cada pessoa ou empresa.
- As razões para tal são óbvias e saltam à vista: urge conhecer o comportamento dos agentes económicos, sob pena de termos mais desemprego e pobreza; urge fazer avanços na medicina, sob pena de termos cuidados de saúde com menor qualidade; urge dispormos de melhores normas no plano do direito, sob pena de termos uma justiça mais iníqua; urge termos elites melhor preparadas, sob pena de termos decisões e políticas públicas mais erráticas, etc.
- Karl Deutsch, o sábio cientista político que estudou cibernética e aplicou os modelos de simulação e sistemas dinâmicos às questões sociais, políticas e económicas - e cooperou no Clube de Roma a fim de estudar os Limites ao Crescimento - compreendeu bem que a governação é uma ciência que se alimenta daquele princípio, aliás, na sua obra, Os nervos do governo - aplica os conceitos da teoria informática e da comunicação aos problemas políticos e das ciências sociais em geral. A tal pilotagem do sistema - que em Portugal significa empobrecimento estrutural, passaria por gerir eficientemente os fluxos de informação com base nos quais o Governo irrigaria o Estado com boas decisões, daí a importância que KD atribuiu à circulação e gestão da informação, enquanto vector fundamental do funcionamento do sistema político.
- Aliás, aquela ideia do caçador que aponta a mira da sua arma para uma distância ligeiramente à frente do espaço onde se desloca a sua vítima - traduz bem a ideia de governação como antecipação, que é coisa que este governo não tem.
- O caso dos EN-VC são bem o sintoma dessa falta de planeamento por parte do Ministro da Defesa Nacional em conhecer o balanço de contas com rigor da empresa, conhecer os mercados e a sua carteira de clientes, as encomendas feitas e as futuras, os custos com o pessoal, etc.
- A política trata hoje de assuntos que cada vez mais se relacionam com cenários futuros, que têm causas e consequências, de curto, médio e longo prazos, mas a opção pela privatização dos EN e pelo despedimento dos 609 funcionários - traduz o que é a imagem da política daquele titular - que administra com oportunismo imediato um sector sensível e único entre nós que deveria, também por isso, ser apoiado.
- Sendo o mundo hoje balizado por uma elevada incerteza, em todos os sectores e domínios de actividade, não é possível fazer uma boa política atendendo apenas ao curto prazo e às exigências do momento. O governo, qualquer que ele seja, deveria estar preparado para gerir sociedades complexas, que têm problemas complexos, os quais exigem uma imaginação projectiva incompatível com a gestão de retrosaria visível nas atitudes incoerentes e inconsequentes do titular daquela pasta - que supostamente deveria saber gerir os EN-VC.
- Num momento da vida pública em que a característica mais decisiva pedida a um governante é ter imaginação e flexibilidade para antecipar cenários futuros com base em tendências e mercados que a empresa tem no seu portfolio - é precisamente nesse momento em que o MDN gere com os pés um dossier sensível e privatiza e despede.
- Infelizmente, neste caso não se previne nem se remedeia, destrói-se como, aliás, é prática nas demais áreas da governação em Portugal.
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