terça-feira

Secas e os tufões - por Mário Soares -

1- Há meses li um livro que depois comentei num artigo, por me ter impressionado muito. Intitulava-se: "Dez mil milhões, enfrentando o nosso futuro", cujo autor Stephen Emmott, é um reputado cientista que chefia um grupo de novos cientistas que trabalham em Cambridge num laboratório sobre a Terra. E que chegaram à conclusão de que em cerca de cinquenta anos, a Terra pode implodir, por culpa dos humanos.
Curiosamente, na quinta-feira última, a Televisão TVI 24/7 passou um longo e muito interessante documentário sobre o que está a acontecer no nosso planeta, com os mais variados desastres climáticos. Têm dado origem a tsunamis, secas, tufões e inundações. Estão a destruir o Ártico e o Antártico, a perder o gelo e, em consequência, a aumentar o nível dos oceanos.
E mais: a revista Courrier International na sua última edição de 24 de novembro de 2013, intitula-se: "O tempo das catástrofes", sublinhando: tufões, secas, inundações e interrogando-se: "Em que medida o aquecimento da Terra é responsável por tudo o que está a acontecer?"
Mas ficou-se pela capa sem ir mais longe. Os mercados usurários não deixam, nem isso lhes importa...
No final do século passado falou-se muito do perigo do aquecimento da Terra. A ONU organizou sessões entre os grandes Estados do nosso planeta - da América do Norte à China, ao Japão à Rússia, ao México, ao Brasil e América do Sul, à União Europeia e mesmo ao Universo Muçulmano e à África.
Mas de repente, depois do fracasso da última reunião da ONU, que teve lugar na Dinamarca, e que foi totalmente sabotada pelas grandes potências - os Estados Unidos, a China, a Rússia e o Japão - os mercados usurários calaram a comunicação social, que em grande parte dominam, e a ONU com o atual presidente, que não gosta de sarilhos, calou-se igualmente.
Entretanto, as desgraças climáticas surgem e desenvolvem-se por toda a parte. O que se passou recentemente nas Filipinas e também nos Estados Unidos devia obrigar-nos a refletir. Mas não. A comunicação social é cada vez mais dominada pelos mercados e os jornalistas e os políticos independentes, que deviam dizer o que pensam, e não o que lhes mandam, têm vindo a diminuir. Por isso, os jornais e as revistas vendem-se cada vez menos...
Claro que a internet é uma poderosíssima rival, visto que as pessoas escrevem no Facebook e noutras redes sociais e dizem o que pensam. É o que de algum modo nos vale. Embora para os velhos, como eu, o hábito da leitura dos jornais e das revistas continue a impor-se, ao contrário dos mais novos.
Voltando a este nosso tempo das catástrofes climáticas - e o que dizem os cientistas acerca do que pode acontecer ao nosso planeta -, impõe-se-nos a necessidade de refletir a sério. São os nossos filhos e netos que vão pagar mais duramente aquilo que de pior pode vir a acontecer.
Para que serve hoje a ONU, se continua a calar-se perante os desastres climáticos, cada vez mais graves, que o nosso planeta está a viver, por culpa exclusiva dos humanos e que está já a refletir-se nas várias espécies animais, nas árvores e em certos vegetais? Para que serve o dinheiro - que é hoje o que conta - perante as catástrofes ecológicas a que hoje impunemente estão a assistir? [...]
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Obs: Até o dr. Soares, que há anos não tem responsabilidades públicas e está quase a fazer 90 anos, anda preocupado com a gestão de crises dos eventos extremos que afectam a vida do planeta e a de todos nós que nele habitamos, tem uma consciência que contrasta, grosseiramente, com aqueles que têm hoje elevadas responsabilidades e não têm uma frase, uma ideia, um documento de suporte que sirva de orientação futura à tentativa de resolução desse magno problema, que é global - e só globalmente deve ser discutido e "resolvido".
- O que impressiona não é tanto o dr. Soares procurar manter-se actualizado acerca de temas candentes que questionam a sustentabilidade do nosso planeta, mas, sim, a mais grosseira ignorância e falta de sensibilidade ambiental, cultural, técnica e política que colonizou a mente daqueles que ocupam hoje os lugares de representação do Estado e que, ainda hoje, são incapazes de distinguir um tsunami duma pedrada.
- Com tanta ignorância funcional mitigada com alheamento político sobre problemática tão comum ("tragédia dos comuns") - não admira que se amanhã houvesse um sismo na capital talvez metade do PIB do país fosse à vida e dezenas de milhar de mortos poderiam ser sinalizados.
- Para aqueles que gostam de fazer comparações entre os ex-PR, como há dias fez o jornalista Paulo Baldaia, talvez possamos encontrar aqui mais um termo de equiparação: o velho Soares preocupa-se com os bens comuns da humanidade, como são os recursos naturais que hoje estão sendo delapidados por alguns Estados, e elege os danos ao ambiente como forma - pedagógica - de chamar a atenção para esse tipo de dano ecológico; o dr. Cavaco - apresenta-se em público e come bolo-rei de boca aberta, e depois queixa-se da magreza das sua reforma e procura justificar o injustificável com acções do BPN que foram vendidas num regime de out of law, logo incorrendo em crime económico que deveria ter sido sancionado pelas autoridades competentes, como a CMVM e outras... 
- Apesar do exagero do exemplo, deliberado, diz a história que há sempre um fundo de verdade nesta caricatura. Mas também não vejo outra forma de tratar o actual locatário do Pátio do Bichos. 

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