Adesão europeia: Estudo fala em «semifalhanço» - por Augusto Mateus -
O estudo "25 Anos de Portugal europeu", apresentado hoje pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), revela que nem os 81 mil milhões de euros enviados pela União Europeia desde 1989 evitaram uma história que se deve descrever como um «semifalhanço».
O estudo afirma que, para quase todos os portugueses, o nível de vida evoluiu de forma positiva. O problema é que essa melhoria não foi sustentada.
Em várias áreas estagnámos ou até andámos para trás. Na economia, o país teve «avanços, interrupções e recuos».
Na prática, defende o estudo, «apesar de muitas realizações positivas, não pode deixar de ser considerada a história de um semifalhanço nacional e europeu: o tempo de uma geração não foi suficiente para tirar Portugal da condição de 'país da coesão'».
O estudo conclui ainda que, entre 1989 e 2011, Portugal recebeu 81 mil milhões de euros de fundos comunitários, mas esse dinheiro não levou o país a ter «mudanças estruturais» que levassem a um progresso sustentado.
O documento sublinha que os milhares de projetos desenvolvidos nestas duas décadas tiveram pouca coordenação e geraram «muitas vezes repetição e desperdício». Certos custos de manutenção foram substimados. Apostou-se demasiado no betão e pouco numa mudança estrutural do país, esquecendo-se a competitividade da economia.
Em resumo, dizem os autores do trabalho, «a evolução da sociedade e da economia portuguesa ilustra um semifalhanço na convergência real à escala europeia».
O estudo sobre os 25 anos de Portugal na União Europeia está amplamente desenvolvido esta manhã nas páginas do Diário de Notícias que vai continuar a divulgar, até setembro, as 600 páginas deste trabalho.
Nuno Guedes, tsf
Obs: Não conhecendo o estudo com detalhe, mas apenas o fragmento que aqui o jornalista nos deixa, é curioso que os autores do estudo não sublinhem a importância negativa da falta de fiscalização dos fundos comunitários e da sua aplicação, da corrupção gritante que se verificou ao nível das empresas de formação profissional (ou algumas delas), da destruição da agricultura e da frota pesqueira, tornando o país cada vez mais importador de bens alimentares, etc. Qualquer português sabe, no plano intuitivo, que este último quarto de século revelou incúria no aproveitamento dos fundos, mas é sempre útil conhecer estudos que científicamente comprovem essas percepções cujos custos financeiros, económicos e, acima de tudo, sociais, duma maneira ou doutra, todos estamos a pagar. Sublinho que o autor do estudo, o Prof. Augusto Mateus, académico e consultor respeitado, foi também um responsável político interveniente em todo esse processo de integração europeia, na qualidade de ministro da Economia, Indústria, Comércio e Turismo do XIII Governo Constitucional, nos anos decisivos de 1996/97.
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