segunda-feira

Rumo a um novo homem: mutação


Os portugueses vivem hoje uma confusão de sentimentos que, porventura, nunca viveram em democracia, i.é, desde 1976 - em que o regime se democratizou nos vários planos. Caminhamos para o abismo e nada podemos fazer, salvo protestar nas ruas e praças do país, escrevendo coisas feias nas paredes. Na prática, os portugueses, e os europeus em geral (nós com a agravante de sermos periféricos e mais pobres), compreendem que estamos confrontados com uma situação altamente problemática que nunca conhecemos antes, mesmo aqueles que já eram homens no decurso do fascismo (brando) de Salazar.
 
Não sabemos o que nos espera, por isso vivemos um misto de angústia e medo, sentimentos que se agravam quanto mais a generalidade dos portugueses firmaram a convicção que estão sendo governados por eleites políticas impreparadas e incompetentes. E como não se sabe o que nos espera (cá e na Europa, de quem dependemos quase em absoluto) reconhecemos que não temos modelo para enfrentar os perigos e os riscos mas, ao mesmo tempo, o país oficial passa a vida em soluções de diversão no quadro duma coligação de centro  direita que mais parece um farrapo completamente remendado. É o farrapo do palhaço.
 
Na economia e nas finanças, já não navegamos num largo rio tranquilo. Ele tornou-se uma torrente apertada entre duas falésias, sem escapatória possível: o défice, o desemprego, as falências das empresas, a ausência de captação de Investimento Directo Estrangeiro (IDE), a incompetência das elites e as más políticas públicas e a corrupção têm feito deste país o tal farrapo do palhaço personificado, aliás, nos 10 milhões de portugueses que pagam uma brutalidade de impostos e são esbulhados e confiscados nos seus bens e salários.
 
Este quadro negro revela-nos a urgência de mudar, sob pena de as desigualdades sociais assumirem pulsões destruidoras, a incapacidade da sociedade reagir através dos mecanismos de regulação social e dar emprego aos jovens qualificados e, ao mesmo tempo, permitir aos reformados uma vida digna, condições que hoje manifestamente não se verificam.
 
Contudo, presumo que o problema não seja apenas político, económico e social; é também cultural, de mentalidades, donde a importância dos valores e dos princípios directores que hoje orientam as sociedades e, dentro destas, as respectivas políticas públicas.
 
Quer dizer, se o problema português é, manifestamente, material, porque envolve o nosso modelo de desenvolvimento, a produtividade e competitividade da economia, a capacidade de produzir bens e serviços com valor acrescentado não podemos esquecer que antes de tudo isso está o tal corpo de valores e de princípios orientadores que nos têm empurrado para essa lamentável situação subdesenvolvimentista, desde logo por escolhermos elites impreparadas que "se têm governado" em vez de governar o país, em prol do bem comum.
 
Esta constatação primária faz com que as questões materiais sejam importantes, mas elas não têm uma existência autónoma da realidade espiritual e cultural que manda (ou deve) mandar e orientar o rumo da economia e das finanças públicas nacionais. E são estes valores fundadores que faltam no comando da política e da estratégia pública em Portugal.
 
Como diria Chateaubriand: as catástrofes terríveis nunca deixaram de seguir a corrupção dos costumes. E já que estamos em plena fase de ciclo mariano, com aquelas incursões espectaculares a Fátima, talvez seja avisado sublinhar que Deus combinou a ordem física e a ordem moral do Universo de modo que uma perturbação desta provocaria mudanças necessárias na outra.
 
Eis a nossa esperança tão bem vertida na Criança geopolítica de S. Dali - que fez o que fez para assistirmos ao nascimento do novo homem. A questão é saber responder ao quando e como..., porque até lá continuamos na mesma, ou seja, a agravarmos a nossa terrível e indigna situação nacional.
 

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