sábado

O affair RTP e o desvio à normalidade


Quando uma empresa sofre derrapagens sustentadas pelo Gov algo vai mal; há que racionalizar meios, recursos e pessoal; dispensar os funcionários menos necessários negociando com eles justas indemnizações. 
- A concessão da RTP 1, por razõe
s históricas e de identidade nacional, é um ideia verdadeiramente IDIOTA - tal como o autor(es) que a tiveram.

- Por isso, a preocupação de António Pedro Vasconcelos veiculado no Expresso é legítima, oportuna e deve prevalecer na sociedade portuguesa. Ainda que Belém, pelos precedentes conhecidos, seja mais sensível aos frutos cristalizados dos bolos-rei do que propriamente a razões de natureza e de alcance cultural e identitária. 

- Este tipo de propostas do Gov reflecte bem a ignorância funcional e a falta de preparação cultural do suposto escol dirigente, manifestamente impreparado em certas áreas da governação. Aliás, creio que isto sucede para que a opinião pública encontre a demonstração prática dessa suposição que passou a realidade, e tão lamentável que ela É!!!

- Todavia, esta atabalhoada apresentação de proposta de privatização da RTP - que nem o próprio Gov entende, o que é surrealista, remete a análise para a circunstância de que os políticos perdem a sua condição de especialistas em assuntos públicos, muitos dos quais nunca o foram de facto, para passarem a ser intérpretes da flutuação dos interesses e das vontades empresariais potencialmente interessadas na aquisição da RTP, é isto que justifica a sistemática cambalhota feita pelo Governo na forma desnorteada e contraditória como apresenta o dossier privatização RTP.

- Relvas, que tutela a área da comunicação social, pode desconhecer muita coisa, e desconhece certamente, até porque não estudou, mas sabe uma coisa: as cerimónias e os rituais políticos são hoje liturgias professadas no altar televisivo, onde o sujeito político, finalmente, ganha a sua dimensão ontológica. Mas também pode perder toda a sua credibilidade, como foi o caso por força dos escândalos de que foi autor, envolvendo uma universidade privada cujo reitor, então, também se deixou corromper. It takes two to dance tango...

- A televisão é, assim, uma esfera sensível porque do domínio da sedução, do poder, da influência e também da alienação. Eis os ingredientes do desvio comportamental em que o actual Governo caiu ao estar a gerir este delicado dossier com os pés. 

- Por outro lado, os grandes homens da informação em Portugal, que são poucos, olham os ministros com um desinteresse quase botânico, mas outros há, a maioria seguramente, temem-nos, especialmente pelo que podem perder, ou deixar de ganhar, na sequência de terem a veleidade de os criticarem publicamente. Eis a dualidade e ambivalência dos homens da informação perante os agentes políticos que decidem.

- Significa isto que os políticos não têm, nunca tiveram rédea solta, pois estão sempre mais ou menos vigiados pelos imperativos e pressão da informação a que estão sujeitos, o que faz supor, com algum fundamento, que, de facto, os políticos estão ainda muito dependentes da chamada nomenklatura jornalística que, apesar de terem menos influência junto da opinião pública do que julgam ter, em contrapartida, têm enorme influência sobre os dirigentes políticos, sempre cansados e expectantes de saber o que os jornais, revistas e televisões dizem e mostram sobre eles no barómetro da sua popularidade.Alguns vivem até obcecados com isso, embora digam, perversamente, - "que se lixem as eleições", a três anos das legislativas..., qualquer um o diz com a mesma simulação representativa na coreografia do poder. 

- Creio que esta pressão dos jornalistas sobre os políticos poderá afrouxar se estes tiverem do seu lado (mediante a privatização da RTP aos angolanos, por ex.,) empresários amigos - cujos jornalistas de quem dependem contratualmente - passarem a ser mais suaves nas críticas públicas que lhes dirigem. Logo, manter uma televisão pública na actual conjuntura, com jornalistas pagos pelo Estado é, paradoxalmente, um risco acrescido para a actual classe dirigente do que ter uma imprensa privada dependente de empresários amigos que passaram a mandar na RTP, ainda por cima com receita garantida à cabeça pelos 140ME de taxas pagas inclusas na factura da EDP pelos contribuintes, outro escândalo que deveria ser imediatamente revogado compulsivamente pelo TC. 

- Para já o resultado é desastroso, mas não surpreende na medida em que está em linha com as demais áreas da governação da actual coligação centro-direita que hoje desgoverna com afinco os assuntos de Portugal. 


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