segunda-feira

Estudo da Universidade do Illinois Um perfil no Facebook pode dizer mais aos empregadores do que uma entrevista

Um estudo da Microsoft mostra que 70 por centos empregadores inquiridos já rejeitaram candidaturas com base nas redes sociais (Foto: Thierry Roge/Reuters) . Via Público.
Se é uma das quatro ou cinco pessoas que ainda não têm perfil no Facebook, talvez não lhe interesse saber que mais de 70 por cento dos empregadores norte-americanos inquiridos num estudo da Microsoft já rejeitaram currículos depois de terem passado uma vista de olhos pelas páginas dos candidatos naquela rede social. Mas agora, um estudo conduzido por uma universidade do Illinois mostra que muitos dos nossos posts, links e até aquelas fotografias em festas, com caras mais ou menos alegres, podem revelar-nos como os candidatos perfeitos a um emprego.
Este estudo, realizado pela Northern Illinois University, e que será publicado no Journal of Applied Social Psychology, revela que não é preciso passar mais do que dez minutos no perfil de alguém no Facebook para perceber se essa pessoa tem o que é necessário para ser contratado.
O responsável por esta investigação, o professor Donald Kluemper, explica, em declarações ao site do jornal The Baltimore Sun, que a ideia de fazer o estudo surgiu quando se tornou evidente que os empregadores estavam a apostar cada vez mais na pesquisa de informação online e menos nos métodos tradicionais – como os testes de personalidade e os testes para avaliar o Quociente de Inteligência –, mas com uma ideia pré-concebida: "Os responsáveis pelas contratações estavam apenas a tentar eliminar a candidatura de uma pessoa que estivesse a fazer algo impróprio [nas redes sociais]. O que nós fizemos foi tentar avaliar os traços de personalidade dos utilizadores de uma forma semelhante àquela que pode ser avaliada através de um teste comum”.
Para satisfazer a curiosidade dos investigadores, foram avaliados 274 perfis de utilizadores do Facebook por três pessoas que receberam formação sobre questões específicas relacionadas com testes de personalidade. As 274 pessoas que participaram no estudo responderam previamente a um teste de personalidade comum – daqueles que costumam ser feitos nas entrevistas de trabalho –, que incidia sobre cinco traços fundamentais: auto-conhecimento, afabilidade, extroversão, estabilidade emocional e abertura a novas experiências. Depois, os três avaliadores passaram entre cinco e dez minutos em cada perfil a avaliar os utilizadores de acordo com os mesmos critérios dos testes de personalidade comuns.
Por exemplo, as 274 pessoas que participaram no estudo eram inquiridas sobre se se consideravam “a alma das festas” e os avaliadores eram questionados sobre se achavam que essas pessoas revelavam no Facebook uma personalidade condizente com as respostas dadas no teste.
"Os que são mais afáveis são confiáveis e dão-se bem com as outras pessoas, características que podem ser reveladas através de uma informação pessoal mais extensa. A abertura a experiências está relacionada com a curiosidade intelectual e com a criatividade, o que pode ser revelado através da variedade de livros, citações favoritas ou outros posts que mostram um utilizador envolvido em actividades novas e criativas. Os extrovertidos interagem mais frequentemente com os outros, o que pode ser revelado através do número de amigos que têm na rede social”, concluem os responsáveis pelo estudo.
Seis meses depois desta avaliação dos perfis no Facebook, os investigadores tiveram acesso aos relatórios sobre a prestação laboral de 69 dos 274 participantes, feitos pelas empresas em que trabalhavam, e chegaram a esta conclusão: passar dez minutos a ler posts, a ver fotografias e a conhecer os gostos pessoais de um utilizador do Facebook diz mais sobre as pessoas do que os testes tradicionais feitos em entrevistas de emprego.
“Acho que uma das diferenças é que podemos mudar os quadros de referência”, avança Donald Kluemper. “Neste caso, estamos a perguntar ao avaliador: ‘Será que esta pessoa é um trabalhador esforçado?’ Num teste de personalidade comum, o candidato seria questionado: ‘Você é um trabalhador esforçado?’ Uma das críticas aos testes em que as pessoas respondem a perguntas sobre a sua própria personalidade é que essas respostas podem ser falsas. Numa página do Facebook, isso é muito mais difícil de fazer.”
Notas: Sendo interessante, embora não pioneiro nas conclusões que extrai, julgo que não devemos ler este estudo da univ. de Illinois acriticamente. Destaco um parágrafo apenas para sublinhar algumas contradições (ou conclusões prematuras que o estudo suscita) podendo, se não houver cautelas, induzir em erros certas organizações que podem pagar-se caro:
- "Os que são mais afáveis são confiáveis e dão-se bem com as outras pessoas, características que podem ser reveladas através de uma informação pessoal mais extensa. A abertura a experiências está relacionada com a curiosidade intelectual e com a criatividade, o que pode ser revelado através da variedade de livros, citações favoritas ou outros posts que mostram um utilizador envolvido em actividades novas e criativas. Os extrovertidos interagem mais frequentemente com os outros, o que pode ser revelado através do número de amigos que têm na rede social”, concluem os responsáveis pelo estudo". (...) in Público.
- Nem sempre os mais afáveis se revelam pessoas confiáveis (por vezes, é ao contrário), até porque o FB é uma rede que vive do "capital-atenção" e da emotividade, e é nisso que as pessoas apostam para terem muitos "amigos" e "likes", logo tendem (consciente e inconscientemente) a representar características ou traços de personalidade e de afecto que objectivamente não têm; as citações e a soit-disant "criatividade" também pode trair o Gestor de RH menos avisado - se este não perceber que o seu potencial interlocutor faz citações de forma gratuita e desgarrada (revelando uma cultura que não tem), não integrando conhecimento em contextos mais vastos e aplicados a situações concretas - revelando que a criatividade não passa, afinal, dum mero exercício de copy-past de livros de citações ou do próprio citador da Net. Pelo que tb aqui o grau de hiper-representação e de emocionalidade pode iludir verdadeiramente o perfil do avaliado (em regra, para o pior, embora ocorram casos positivos); um perfil duma pessoa extrovertida pode ainda revelar a existência duma agenda oculta por parte de certos perfis. Alguns exemplos: pessoas que pretendem usar da extroversão de forma sistemática para divulgar negócios, serviços, empreendimentos de diversa ordem, ou promover determinadas instituições, empresas, organizações - cujos objectivos raramente são de tipo altruísta ou filantrópico.
- Embora haja excepções e o FB, como uma extensão da sociedade de carne e osso que encarnamos, também não é (nem pretende ser!!) uma comunidade de anjos.
- Ou seja, a condição humana é dúplice, compósita, segmentária, irracional (porque feita e paixões) e errática. Este estudo, sendo interessante, tem (e deve) ser visto à lupa e com pinças não vá introduzir ainda mais ruído quando uma empresa pretender recrutar alguém na feira de vaidades - como é o FB - em que poucos são aqueles que verdadeiramente pensam - de raiz - algo e reflectem sobre os mais variados aspectos da sociedade, da economia, da política.
- Não podemos é omitir que o FB, sendo já uma comunidade alargada de milhões de pessoas que interagem entre si, deixa um rasto de comportamentos que pode e deve estudado (com diferentes finalidades), como faz D.K. que, com toda a razão, vem dizer o óbvio: os métodos de recrutamento com base nos critérios clássicos podem ser complementados por novos meios de avaliação, sobretudo em plataformas em que as pessoas tendem a ser mais naturais e espontâneas nesta mega-rede, ainda que não deixem de representar, daí a margem de erro na avaliação que carece de despiste, o que nem sempre é fácil.
- Mas isso tb ocorre com o pessoal político, antes, durante e depois das eleições em que as promessas feitas em contexto eleitoral à sociedade raramente coincidem com as medidas e os resultados apurados aquando da conclusão dos mandatos. Aliás, Portugal é, hoje, tragicamente, a expressão mais acabada desse fosso entre as promessas e as realidades. Deus e o diabo estão nessas distâncias...

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