quarta-feira

A revista Time vai de mal a pior. Prefere um "pedófilo das informações" à recuperação dos mineiros chilenos...

A [direcção] da revista Time ou os seus leitores, não se sabe bem, escolheram o activista anti-globalização n.º 1 do planeta, Júlinho Assange, para a "star" do ano da referida publicação. Não vou aqui discutir os critérios dessa eleição, até porque a revista Time diminui substancialmente a sua importância editorial e influência no mundo, como todas as publicações tradicionais, mas é pena que em inúmeros casos essas escolhas sejam feitas em nome do vouyerismo de mercado e não do poder positivo daqueles empreendedores que fazem obra, criam riqueza, descobrem novos fármacos, inventam novas tecnologias que melhoram significamente a condição humana e reforçam qualidade de vida das pessoas.
Nessa linha, ao longo da história, a revista já fez capa com cada pulha, mas a vida também é composta por eles, e eles, de facto, contam cada vez mais nas história das nações e nas dinâmicas sociopolíticas que é preciso reter e, acima de tudo, compreender.
O MNE Amado treme com as revelações da Wikileaks, sob os aplausos de Ana Gomes cujo sonho era ser MNE (fica para a próxima); alguns banqueiros têm que se arrastar imediatamente pelas estações de tv para não serem despedidos pelos respectivos accionistas, dando explicações que, em certos casos, nem sempre convencem a opinião pública (e publicada!!). Até porque a opinião pública quer é sangue, não quer ser convencida. Muito menos por banqueiros - que representam tudo aquilo que a maior parte das pessoas não têm, e queriam ter, daí o ódio institucionalizado que a acção sistemática de Assange veio reforçar no interior das nações e no sistema de RI.
E o mais curioso é que mesmo preso, a organização de Assange continua a fazer estragos cada vez maiores nos países cujos cables comprometem a permanência no poder de diplomatas, banqueiros, militares, políticos, enfim, o escol dirigente nas altas esferas da sociedade (civil e do aparelho de Estado). Isto, de per se, já é uma revolução de mentalidades operada pela Wikileaks, cujos efeitos ainda não conseguimos prever em toda a sua extensão.
Provavelmente, no domínio diplomático terá de passar a haver a segurança que hoje manifestamente não existe; a linguagem utilizada nas notas diplomáticas será mais contida e mais cifrada; priviligiar-se-ião mais contactos pessoais do que comunicações virtuais, sempre que aquelas sejam possíveis, e até que o cimento da confiança seja novamente restabelecido nas RI poderá demorar uma década ou mais.
A confiança é como a virgindade, uma vez perdida perdida nunca mais... Esta é uma regra diplomática basilar.
Todo este quadro clínico desesperante, que demonstra à exaustão a dimensão da incompetência, da vulneralidade e da deslealdade de militares e diplomatas da República Imperial, é que deram azo a que parasitas como Assange tenham acumulado tanto poder por causa de informação que, em rigor, não passa de bagatelas para alimentar o pasto em revistas cor-de-rosa.
Mas, pelo meio, alguns banqueiros têm que saltar para a arena a fim de se justificarem, alguns diplomatas percebem que são verdadeiros idiotas - e quando assim é, há sempre alguém disposto a rentabilizar políticamente essas deslealdades, nem que para o efeito se criem tensões entre as nações e as organizações internacionais que acabam por minar a confiança em todo o sistema de RI.
Neste campo, não será arriscado dizer que saudades alguns deverão ter da Guerra Fria, em que apesar de existir a possibilidade da Destruição Mútua Assegurada/MAD nas RI, os serviços de intelligence funcionavam com alguma credibilidade, e não tinham como inimigos um cracker em cada esquina do mundo.
Nessa ordem de factos e de factores, o Julinho já é mártir, tem a opinião pública com ele, conseguiu por os povos contra os respectivos líderes políticos, opor líderes políticos de grandes potências entre si, Lula da Silva "Cachaça" até se pôs do seu lado contra uma América doente e decadente. Assange até se deu ao luxo de designar os jornalistas os maiores idiotas do mundo - mas estes, paradoxalmente, não tiveram nenhuma capacidade de resposta porque se acharam diminuídos na sua autoridade e legitimidade de funções. Eles lá saberão...
Foi tudo isso que o Julinho conseguiu, e, nesse sentido é uma tremenda vitória da fuga de informações contra a gestão dos silêncios, da pornografia contra a discrição, do mundanismo contra uma certa aristocracia que ainda subsistia nos aparelhos diplomáticos que, afinal, são tão seguros quanto um quartel da GNR num dia de festança da corporação.
Nesta galeria de idiotas, Julinho aparece em 1º lugar para fazer a montra à loja de fanqueiros em a revista Time há muito se converteu. Pergunto-me, nesse caso, por que razão os idiotas da direcção da revista não escolhem, por exemplo, a Lady Gaga para assumir esse comando de notoriedade no cabeçalho da revista que até já oferece assinaturas - que muitos de nós rejeitam. Aliás, os brindes ainda conseguem ser melhores do que a revista.
De facto, a Net é tramada, fez o empowerment para certos cidadãos-globalitários - que nem sequer estão preocupados com o bem-estar da humanidade, eles apenas querem granjear notoriedade para a sua organização a fim de que esta consiga angariar mais fundos para continuar a sangria de informação que, em última instância, deixa o mundo exange, mais improdutivo e inseguro. No fundo, tipos como Assange vivem da crise e para a crise de valores, alimentado-se do cadáver das pessoas, das instituições explorando os medos de nações inteiras.
A recuperação em directo dos mineiros chilenos, pelos vistos, têm menor importância para a agenda da revista do que a inserção da cara do maior "pedófilo das informações" que o mundo jamais conheceu. E isto diz mais acerca da Time do que de Assange - na "fábrica do medo" que ele conseguiu montar à escala planetária.
E isso, confesso, preocupa-me mais do que saber se Carlos S. Ferreira do BCP é ou não um mentiroso encartado, ou se Amado deu, de facto, autorização aos EUA para sobrevoar o nosso espaço territorial com prisioneiros provenientes de Guantanamo. .

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