Política à portuguesa
A política à portuguesa está recheada de contradições difíceis de entender e até de aceitar na esfera pública. Vejamos algumas dessas contradições que prefiguram aspectos aberrantes da nossa vida política. Al berto João, "proprietário" da Madeira, que explora em "regime de contrato vitalício", chamou Cavaco por "Sr. Silva", nome típicamente português, procurando, com isso, achincalhar a sua pessoa e honra na praça pública, ainda por cima sendo o Presidente do Gov regional o anfitrião dessa visita oficial. Agora é o mesmo "proprietário do latifúndio" que defende urbi et orbi que Cavaco é o homem do futuro, razão por que o apoia. O empresário do Norte, o grande Belmiro de Azevedo, 2º maior empregador depois do Estado S.A, cunhou Cavaco de "Hitler" nas páginas do seu jornal diário, o Público, agora defende a sua recandidatura a Belém, também pelas mesmas razões que o "dono" da Madeira advoga para apoiar o actual PR. Pergunto-me se nessa "maldade" semântica Belmiro pintou Cavaco com o bigodinho do Adolfo, ou idealizou o homem de Boliqueime sem bigode, embora igualmente com ar austero, qual manequim da rua dos Fanquueiros a expor roupa importada da Índia e da China, onde hoje está Teixeira dos Santos. Parece que foi lá comprar Pandas para valorizar a fauna do Jardim Zoológico, em Lisboa!!! Agora temos a versão mais actual da diatribe presidencial, com o poeta Manel Alegre, que já não sabe o que há-de fazer para se pôr em bicos-de-pés e fazer Cavaco sair da toca de Belém, afirmando que Cavaco se apresentou na PIDE com um certificado de "bom comportamento", enquanto que o poeta, de voz tonitroante e cheio de si, andava pela radio-Argel a fazer oposição ao velho "Botas". Eis alguns exemplos que revelam bem algumas coisas da nossa classe política: a consideração que os políticos portugueses têm uns pelos outros; o nível da coerência das suas posições pessoais e institucionais que depois projectam na esfera pública; e os expedientes a que recorrem para fazer combate político. Se calhar, encontramos aqui um retrato miserável que justifica a razão pela qual os governados estão cada vez mais distantes deste tipo de políticos sem crédito e sem escrúpulos, além da fraca densidade intelectual e credibilidade política - o que se traduz nas fracas políticas públicas no sistema política em Portugal. Ainda bem que Cavaco "não é político", como não se cansa de dizer, e o poeta não passa dum velho oponente à velha memória de Salazar. Estamos, portanto, "bem entregues" no quadro destas eleições presidenciais.
PS: Ouvi Marcelo entrevistar a esposa do ex-PM, Francisco Sá Carneiro. A coisa foi tão fraca quanto miserável. A senhora, em rigor, nada tinha de revelador para dizer, por isso limitou-se a alinhar confidências que são muito do agrado de Marcelo. Este, com a experiência que tem, já devia saber que há coisas que são públicas e há coisas que são do domínio privado, e quando se misturam acabam por diluir, senão mesmo prejudicar, a imagem pública que fazemos de certas personalidades. Marcelo ainda não entendeu isso, e não hesitou em pressionar a senhora a aceitar a tal "conversa ao serão". Por isso prestou um mau serviço ao país remexendo em coisas que só têm um interesse e alcance exclusivamente familiar. Marcelo denunciou uma faceta que já conhecíamos: o "jornalismo de trazer por casa", feito de confidências que deveriam ficar resguardadas na sala de jantar. Parece que regressámos ao tempo em que o semanário de Balsemão era dirigido por quem lhe chamava: lé-lé da cuca. Pobre prestação!!!
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