Oliveira e Costa é o anti-herói dos novos tempos neste 1º quartel do III milénio
Se tivesse que eleger a personalidade de tipo anti-herói de 2010 em Portugal não teria dúvida em fazer recair a escolha sobre Oliveira e Costa: um self-made man de Esgueira, Aveiro, que nunca brincou na vida, cedo começou a trabalhar para se sustentar e garantir o sustento da sua família. Mas o que, porventura, faz deste "engenheiro financeiro" especialista em "contabilidade criativa" um anti-herói é, de facto, o conjunto de atitudes e de comportamentos que desenvolveu na esfera pública, seja como ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de cavaco silva, seja depois através da sua actividade bancária como fundador e CEO do BPN, essa criação eminentemente cavaquista. Serão múltiplos e distintos os vários crimes económicos, financeiros que Costa praticou, muitos deles são tão criativos que nem sequer estão previstos na lei, porque esta, consabidamente, anda sempre atrasada relativamente à inventividade da alta criminalidade económico-financeira, por natura, sofisticada. Mas o CEO do BPN consegue várias proezas simultaneamente, o que fará dele esse anti-herói dos novos tempos. Vejamos sumáriamente algumas dessas proezas: Oliveira e Costa tem uma rede de colaboradores, desde administradores, adjuntos, meros executantes que actuavam mediante a sua ordem, outros com alguma autonomia, e só ele foi detido pelas autoridades criminais deste país. Significa que Oliveira e Costa foi fiel à sua lei da Omertà, pois podendo denunciar dezenas de pessoas que operavam na sua orbita, e que são co-responsáveis por aqueles crimes, acabou por os encobrir em nome dum desígnio maior a fim de circunscrever o problema, poupando, assim, directamente Belém e alguns efeitos colaterais do bloco central que tem uma perna dentro e outra fora do Gov. Daqui decorre uma 1ª ilação: o nosso sistema de justiça é tão fiável quanto aqueles semáforos do Campo Grande que, por falta de manutenção, já mataram crianças por efeito de electrocução. O. e Costa podia agir animado pelo egoísmo puro e duro, pela mera vendetta, por vaidade (assacada por ele a Dias Loureiro na Assembleia da República), ou por outra qualquer característica da condição humana, porém Oliveira e Costa conseguiu segurar todos aqueles efeitos colaterais e preferiu "morrer sózinho" do que denunciar as centenas de colabores que foram executando a mega-fraude que descapitalizou o BPN, colocou os seus clientes no fio da navalha transferindo para os seus cerca de 1800 funcionários o odioso da tarefa de, diáriamente, defender o banco junto dos clientes, i.é, vendendo gato por lebre a fim de segurar os seus postos e trabalho.
Eis os ingredientes que fazem de Oliveira e Costa o tal anti-herói da sociedade portuguesa de 2010 - que poderá fazer as delícias da literatura e da 7ª Arte nos próximos tempos entre nós. Ao mesmo tempo rebelde e simpático, Costa afirma-se também um homem detentor dum refinado humor, senão mesmo sarcasmo, o que é fácil, especialmente se o dinheiro for dos outros, como é o caso.
Naturalmente, quando se fizer a história do tempo em que Oliveira e Costa esteve nos Assuntos Fiscais, perceber-se-á como é que certas empresas que não pagavam o dito "dízimo ao partido", eram depois perseguidas fiscalmente a ponto de terem de fechar portas por falência. Costa sempre sobreviveu, e só foi detido quando há denúncias "de dentro" do seu inner circle (como sucedeu a Isaltino, em Oeiras) que desperta as autoridades, sempre os últimos a saber, para a prática de burlas, fraudes fiscais, branqueamento de capitais e de inúmeras outras irregularidades que conduzem depois o Estado à nacionalização do bpn - nomeando uma Administração da CGD (que ora quer sair) - a fim de evitar o colapso definitivo daquela muleta cavaquista..
Mas Oliveira e Costa, embora sendo preso, sempre obteve a anuência da autoridades, à esquerda e à direita, deste e doutros governos, o que se explica, em parte, pelo carisma do ex-secretário de Estado de cavaco, mas também, e sobretudo, pela acordo tácito entre ps e psd em segurar o homem, culpando-o de tudo para não envolver mais ninguém e, ao mesmo tempo, atenuando-lhe a pena.
A esta luz, Oliveira e Costa é um verdadeiro anti-herói, já que se destaca do papel do vilão clássico, na medida em que obtem a provação de quem tem o poder político em Portugal, seja em S. Bento, seja em Belém, por maioria de razão. E fazer este pleno, além de ser um acto quase milagroso, revela também a natureza do nosso regime político e sobre que valores assenta para dirimir a alta criminalidade económico-financeira que tem grassado em Portugal nos últimos 10/15 anos.
Se fosse novelista ou realizador de cinema, era neste anti-herói que pegava para fazer o livro ou o filme da década em Portugal. Talvez nenhuma outra oportunidade ocorra em Portugal para descrever o comportamento, as ambições, as regras, as condutas, as fragilidades, o tráfico de influências, enfim, toda a corrupção nas suas várias instâncias e vertentes que tolhe hoje o sistema político, económico e financeiro no nosso país para reescrever a própria História de Portugal.
José Hermano Saraiva já está bastante velhinho para uma empresa dessa grandeza, e enquanto não desponta um historiador de fôlego capaz dessa mega-tarefa, sempre poderemos ilustrar em Banda Desenhada/BD alguns desses traços tipicamente lusitanos, mas que têm muitas conexões a Cabo Verde, Ilhas Caimão, outras off-shores e muitos outros destinos que um tal dias loureiro, poeta nas horas vagas, poderá, um dia, melhor do que ninguém, ajudar a esclarecer. Terá é que deixar passar os anos exigidos pela lei para não ir preso (in)voluntáriamente. Mas Loureiro é esperto, e sabe isso!!
O mais interessante, porventura, é que Oliveira e Costa já revelou ter duas personalidades diametralmente opostos: quando foi secretário de Estados dos Assuntos Fiscais era um tipo austero, frio, analítico, como cavaco; agora, já mais velho, debilitado e com os podres todos à mostra da vitrine da opinião pública, revela-se um ser dialogante, simpático, sentimentalista e com um excepcional sentido de humor.
O que também é revelador da miséria da própria condição humana. Tudo isto faz, objectiva e subjectivamente, de Oliveira e Costa o anti-herói por excelência da história da política, da economia e da alta finança portuguesa dos últimos tempos.
Oliveira Costa na comissão de inquérito
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