quarta-feira

O Natal

O Natal ainda é, afinal, a instância salvadora - pessoal e colectiva - que inventámos para nos reinventar. É neste momento que ficamos mais sensíveis ao "outro", às injustiças e desigualdades sociais, económicas e culturais, caindo mais facilmente na enunciação salvífica, criadora que consagre um novo mundo. Mas todos nós sabemos, antecipadamente, que o poder da nomeação vertido nas palavras é tão breve quanto frágil, por isso redundamos no fracasso da memória q temos de natais anteriores - em que nenhuma das profeciais se realizou, segundo o esquema mental de cada um. A esta luz, o efeito simbólico do Natal é o de nos dar a sensação duma existência superior, realizada, que consagre valores de justiça, de ordem, de bem comum, de liberdade, de democracia, de desenvolvimento, etc. Aproveitamos o Natal para nos "santificar" dos vários produtos tóxicos c/ que lidámos durante o ano, e é essa santificação - tendo no horizonte o desfecho de vida do menino Jesus - que lá vamos proclamando a universalidade daqueles valores, mesmo sabendo que pouca coisa se realiza. O Natal também serve para isso: criar novas categorias para nomear as coisas, as pessoas, o mundo na esperança de que as novas (velhas) profecias se realizem, e se assim for muitos de nós até seremos capazes de acreditar verdadeiramente no Pai Natal, que até nos poderá surpreender pelo quarto dos fundos, e não já pela chaminé...

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