domingo

D. Jorge Ortiga: Arcebispo censura interesses partidários e carreirismo

O arcebispo primaz de Braga afirmou à Agência Ecclesia que “em Portugal, não há política, no sentido genuíno da palavra”.
D. Jorge Ortiga entende que “há demasiados interesses partidários e carreirismo. Há uma submissão exagerada a um líder, às orientações do partido. E deveria haver liberdade e responsabilidade da parte de todos”.
Numa longa entrevista que em passa em revista a intervenção da Igreja Católica em Portugal no ano 2010, o também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa analisa a visita do Papa, os casos de abuso sexual por membros do clero, a crise económica, a aprovação da lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo e o Centenário da República.
Ainda sobre a actividade política criticou que exista “quase sempre, da parte dos diversos partidos, orientação do voto e uma linguagem programada no Parlamento”, onde “são sempre os mesmos a falar”.
Doutrina social da Igreja como alternativa
Sobre o actual momento de crise, D. Jorge Ortiga, propõe como alternativa ao actual mo- delo económico, a que “resulta dos contributos da Doutrina Social da Igreja”.
“Estou convencido que este modelo social e económico da actualidade está ultrapassado, desapareceu e estamos a colher os resultados”, afirma o prelado bracarense, censurando o in teresse, no mercado que provoca lucro fácil, permitindo que alguns enriqueçam e outros continuem a viver na miséria”.
O arcebispo insiste que “a alternativa está numa consciência nova, assente nos princípios da Doutrina Social da Igreja da solidariedade e do bem comum”, porque “nesta fraternidade, haverá sempre quem tenha mais e quem tenha menos, mas as desigualdades não serão tão grandes; e não haverá pessoas com duplo e triplo emprego, antes a sensibilidade para reconhecer que o outro tem uma dignidade idêntica à minha e necessita de poder trabalhar e ter direito a uma vida digna”.
Observatórios sociais nas paróquias
Sobre as respostas aos mais necessitados, D. Jorge lembra que “a Igreja foi pioneira, nas cidades e nas aldeias, a lançar centros sociais e paroquiais há muitos anos para dar respostas sociais quando não se falava muito da necessidade delas”.
O presidente da Conferência Episcopal alerta, no entanto, que a acção daquelas instituições “não basta”.
A caridade é muito mais do que isso: é feita de atenção, de silêncio, de tempo”. D. Jorge Ortiga considera “importante ter um conhecimento da realidade, através de um Observatório Social, onde a paróquia pode ser um meio importante para dar a conhecer a real situação das famílias”.
Obs: D. José Ortiga é um homem intelectualmente estruturado: lê, estuda e reflecte antes de falar. Todavia, duvido que os agentes políticos lhes dêem ouvidos, mas, por outro lado, o carácter incisivo das suas palavras bem poderiam colher eco nos lugares comuns proferidos por sua eminência, D. José Policarpo. Pela coragem e presciência das suas palavras medite-se em propostas de solução que complementem as preocupações do arcebispo primaz de Braga, D. Ortiga.

Etiquetas: