quinta-feira

Cinismo político reforçado em Portugal. Evocação de Diógenes

Nunca como hoje a vida política esteve tão radicalizada, não no sentido do PREC em que os actores políticos se ameaçavam de pancadaria, dentro e fora do parlamento, mas no sentido de observarem a regra de conduta do vita mea, mort tua. Ou seja, os actores políticos procuram agir de tal forma que o resultado da sa acção consista na eliminação política do adversário. É assim entre séniores como entre players idosos, já com muitos de cabelos brancos.

Esta conduta redunda na institucionalização do cinismo político. Que, incialmente, pela mão de Diógenes consistia numa corrente de pensamento que advogava o desapego às riquezas, à gula de poder, aos privilégios e ao mando. Com o tempo a doutrina matricial de Diógenes foi-se perdendo e deteriorando, como em tudo na vida, e esse mesmo cinismo passou a significar outra coisa: indiferença ao pensar e necessidade do outro, indiferença pelo sofrimento alheio e um profundo desprezo pela arte do compromisso que é a essência da democracia. Ou seja, nada que religasse com o significado do cinismo na sua origem, tal qual foi pensado e praticado por Diógenes.
Portugal hoje precisa - como de pão para a boca - de um compromisso político para viabilizar o OE-2011, e pelo facto de ele não se conseguir o país, todos nós mediante os impostos que pagamos, liquidamos uns milhões de euros extra por dia para pagar os juros da dívida soberana que Portugal contraíu no exterior para se financiar. Dívida resultante, na sua origem, das adiposidades do Estado gordo que não se consegue ver livre de institutos e de fundações que tem de sustentar e de que não consegue abdicar por razões ligadas ao chamado clientelismo político que atravessa o sistema de partidos, mas que afecta sobremaneira os partidos do arco da governação: PSD e PS.
É neste quadro que se recriam as condições sociopolíticas da política cínica que permite a quem exerce o poder ir manipulando as ilusões juntamente com as consequências que elas implicam; e às oposições - incapazes de contrariar essa tendência - ir alimentando esse fogo que arde sem se ver. O resultado dessa incapacidade do sistema político é uma real perversão presente na acção dos actores políticos, ainda que venda uma imagem de inocência e de compaixão pelos problemas que criaram à polis e aos eleitorados - cada vez mais esmagados pela tenaz dos impostos.
Esta opacidade e patologia política comporta ainda uma outra perversão, que consiste em escavacar os mecanismos reguladores da democracia, já que impede uma avaliação objectiva dos governantes - e até dos players da oposição - na medida em que todos hiper-representam guiões distintos na peça geral, dificultando a vida aos eleitorados quando estes são confrontados com o acto eleitoral.
Daí a dificuldade da escolha política que hoje se coloca em Portugal: escolher entre um governo sem prestígio e sem crédito e uma oposição que ainda não se afirmou verdadeiramente como alternativa à governação.
Este impasse na mente dos eleitorados aumentará, porventura, as condições do exercício da política cínica em Portugal, e promove, perversamente, as condições em que as ilusões e a mentira política são penetradas no espaço social que já não dispõe de ferramentas para as identificar e prevenir. O que significa que quando o povo as detecta já a economia está cancerosa e o número de falências, a taxa de desemprego e de desinvestimento na economia nacional revelam uma verdadeira miséria.
Tanta que agora é a República Popular da China, uma "democracia sem democracia", profundamente violadora dos direitos humanos que até mantém prémios nóbeis na cadeia por mero delito de opinião (tal como faz Cuba do lagarto de Havana!!!), que goza dum capitalismo de Estado que se propõe comprar-nos a dívida soberana.
E assim flui Portugal, negociando com os "grandes" senhores deste mundo: Hugo Chavez, Kadafi, Zé Dú (Eduardo dos Santos), o que reforça ainda mais a percepção - na frente externa da nossa diplomacia - de que as condições da política cínica existente nos afasta ainda mais dos ideais genuinamente democráticos e livres com que fundámos as sociedades abertas e criámos as civilizações do nosso tempo.
Afinal, para que nos serve a Europa?!
Pelos vistos, é para ouvir o "Cherne-barroso", esse traidor à pátria fazer advertências bacocas de fora para dentro, e logo dele que abandonou o lugar de PM numa deserção pura pelo poder, i.é, de cinismo degenerado e que é, talvez, o expoente desse paradigma negativo do político cínico contemporâneo.
deep forrest sweet lullaby

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