Política à portuguesa: Muppet Show com Alegre a fazer de "baterista" e a vocalista de PM
O espaço público articulado exige a existência de questões sociais postas no âmbito da deliberação pública e de outras que são protegidas pelo escrutínio desse mesmo público. Alegre conhece a literatura, gosta e produz poesia, faz ensaio e romance mas, de facto, não conhece a máquina do Estado, não sabe formular uma política pública, nenhuma experiência tem no plano internacional e vive apenas do seu capital de queixa temperado com a luta ao salazarismo e, mais recentemente, goza da memória evanescente do seu milhão de votos nas últimas eleições presidenciais em que perdeu para Cavaco mas em que humilhou literalmente Mário Soares, ao dividir o PS e a esquerda no seu apoio. Contudo, Alegre confunde algumas coisas básicas que o podem trair. Vejamos, ele até pode ser um indivíduo leal com os seus amigos, fiel à pátria, ser sincero quando apoiou o BE e dele recebeu igual apoio quando durante um ano inteiro andou a chantagear o PS e o seu líder, mas essas putativas qualidades não são transferíveis imediatamente para o quadro das relações públicas com relevância política, nas quais vigoram critérios diferentes. Mas hoje Alegre está a servir-se dos seus relacionamentos privados para retirar efeitos públicos/políticos. A sua viagem aos Açores para aí fazer o seu lançamento insere-se nitidamente nessa estratégia eleitoral. Seduzir César para este pressionar Sócrates a ceder e o apoiar quanto antes. Em rigor, políticos do tipo histórico e passadista, como Alegre, ou com perfil mais executivo, do género Cavaco, limitam-se a responder às expectativas dos elitores sem formular projectos que possam dar sentido à acção colectiva para lá das reacções mais imediatas da opinião pública. Uma acção política assim é, precisamente, aquela que o poeta Alegre reflectiu em décadas de deputado no Parlamento, em que o seu préstimo político para a Nação foi igual a zero; de igual modo, Cavaco nestes anos em que está em Belém limita-se a gerir a sua imagem institucional e a preparar a sua próxima campanha presidencial. A esta luz, quer Alegre quer Cavaco são equivalentes funcionais, como diria Talcot Parsons, pois da sua acção sectorializada não resulta uma estratégia de valorização comum e de reformas sociais para Portugal, apenas resulta uma satisfação das clientelas particulares afectas a cada um desses lados. É por isso que a candidatura de Fernando Nobre (contra a indiferença) neste contexto amorfo é tão importante. Veremos se o povo não descobre estas maroscas e não os penaliza ainda mais, até porque o que é válido na esfera das relações privadas por vezes nenhuma correspondência tem na esfera pública. Além de que se pode perguntar o que Alegre fez pelo seu país senão editar uns livros (cujos direitos de autor revertem para o seu bolso... poderia apoiar os cães abandonados de Lisboa, os pobres do Martinho da Arcada de que ele tem pena ou as viúvas dos desgraçados que já partiram vítimas de sida), fazer uns discursos na AR, em regra para criticar os seus, e, no tempo da outra senhora, fazer rádio em Argel para "matar" mais rapidamente o velho "botas"... É tudo muito pouco para o perfil de alguém que hoje deseja ser PR em pleno séc. XXI.
Sejamos sérios: o poeta Alegre fez duas coisas apenas na vida com efeito simbólico, a primeira delas foi ajudar a fundar o PS; a segunda foi ter combatido o regime de Salazar. Então revelou coragem, mas já passaram 40 anos que, entretanto, fizeram do poeta um homem do outro tempo. Só ele, e o seu inner cicle, parece não ver o óbvio.
Adenda: Durante todo o ano de 2009, o poeta Manuel Alegre constituiu-se numa espécie de apêndice de Louçã e do BE, a extrema-esquerda anti-sistémica no sistema partidário no país (a quem o chefe António costa queria partir a espinha num Congresso do PS em 2009), e com ele conspirou pelas ruas e esquinas de Lisboa acerca da melhor maneira de cilindrar o PM, Sócrates, que Alegre combateu aquando da luta pelo poder interno no PS. Em si já é estranho que o poeta se tenha alinhado ao partido mais radical em Portugal para atrair as atenções sobre a sua pessoa, pois bem sabemos do egocentrismo do poeta; grave, contudo, é que o tenha feito em nome de um falso projecto social e económico de desenvolvimento e de modernidade para Portugal que o BE e Alegre manifestamente não têm. Em rigor, Alegre acusava o PM dos vícios em que ele próprio incorreu. O vídeo infra, passe a analogia, evoca-me o papel de "baterista" a que o poeta Alegre se prestou (cabendo à vocalista o papel de PM) durante o ano de 2009 com o BE para amplificar o seu narcisismo, promover os seus livros gozando, para o efeito, do tempo de antena concedido pelas estações de tv pagas com os impostos dos portugueses. De facto, a política no seu sentido mais nobre, a existir, deveria consistir em civilizar este espaço emocional e de ultra-paixões que alguns, montados em alguma engrenagem do poder, cavalgam como forma de instrumentalização dessas suas paixões, mas que nenhuma responsabilidade ou benefício social colectivo traz ao país. Uma sociedade que nos serve à mesa um Manuel Alegre (requentado!! - que envergonha o PS) e uma continuidade estéril patente neste mandato introsivo e belicoso (cujo expoente foi o caso das escutas, uma inventona de Belém para destituir o PM via golpe e estado...) de Cavaco é, manifestamente, uma sociedade (civil e política) coxa, débil e esclerosada. Ora, é contra este désencadrement político nacional que devemos, enquanto povo, lutar não apoiando nem Cavaco nem Alegre. Por isso perspectivo a entrada em cena de Fernando Nobre, que sempre trabalhou em prol da colectividade (nacional e planetária, como médico sem fronteiras) e não é, por isso, um parasita da política nem dela se serve para fins pessoais, como uma verdadeira lufada de ar fresco neste tempo político bafiente em que tristemente vivemos. Seria, pois, muito interessante e gratificante que o povo português, no caldo de cultura imbuído da sua maturidade democrática, reconhecesse o mérito a quem o tem e não continuasse a promover os oportunistas do costume.
Muppet Show Moreno and Animal
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