domingo

José Machado Pais lança mais um livro: Lufa-Lufa Quotiana...

Nota prévia macroscópica: José Machado Pais não pára, tem uma capacidade de produção sociológica assinalável, e logo neste seu livro partilha connosco uma reflexão exemplar de Fernando Pessoa, extraída da Ode Triunfal - via Álvaro de Campos - onde se diz:
Hé-lá, hé-lá as praças, hé-lá-hô la foule
Tudo o que passa, tudo o que pára às montras! (...)
Ó automóveis apinhados de pândegos e de p....,
Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas,
Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como quereria! (...)
Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome
Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos
Em crispações absurdas em pleno meio das turbas
Nas ruas cheias de encontrões!
Fica aqui o convite para entrar nas deambulações deste sociólogo, que já recebeu o Prémio Gulbenkian, e que nos deixa um quadro tão impressionante quanto realista dos comportamentos nas nossas cidades, abordando neles os medos, as subjectividades, os constrangimentos e toda a reflexividade das identidades que tecem os fios históricos que racionalizam as temporalidades actuais. O livro é pequeno só no tamanho, mas concentra em si um potencial interpretativo que nos ajuda não só a perceber a forma como vivemos mas, essencialmente, a saber quem somos nesta fábrica da modernidade apressada em que vivemos. Além de que é um livro rico em referências ao melhor estilo sociológico, a que José Machado Pais há muito nos habituou.
Parabéns, portanto, ao autor por partilhar mais estes instrumentos de análise que nos ajudam a explicar porque razão e como chegámos ao sítio em que estamos
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R-O livro aborda o ritmo apressado de vida quotidiana em meio urbano, esse ritmo de vida que Álvaro de Campos, em A Passagem das Horas, retratava como uma bebedeira de rua, de tudo sentir, ver e ouvir ao mesmo tempo.O livro explora a alienação que ameaça os habitantes das cidades quando não conseguem, mentalmente, representar-se nelas. A chamada indolência urbana decorre de uma «demissão subjectiva» que Lacan associava às depressões. Não é por acaso que a cidade, em vários spots publicitários, nos alerta para o drama do apressuramento: "Vai uma rapidinha?"; "Vai ser tão bom, não foi?"; "Chá pau de Cabinda, contra a impotência sexual"... Estamos a falar de males do íntimo que reflectem maleitas do modo de vida urbano.
2-De forma resumida, qual a principal ideia que espera conseguir transmitir aos seus leitores?
R-O livro não trata apenas das dolências e indolências da vida urbana. Pretende mostrar que o sentido da cidade pode ser reconquistado por quem nela vive ou transita, mas para isso é necessário uma mudança de atitude; políticas culturais que permitam que a polis (da ordem do político) não se divorcie da urbs - que é o pulsar da cidade, em toda a sua expressividade cultural.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Estou a escrever sobre "Afectos e sexualidades Juvenis" e a preparar a edição de um documentário sobre um fado que descobri no Brasil e que vem do tempo dos escravos.
__________ José Machado Pais
Lufa-Lufa Quotidiana. Ensaios sobre Cidade, Cultura e Vida Urbana
ICS

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