sábado

O primeiro triunfo de um estilo - por João Marcelino -

1 Bastou meia dúzia de dias para que o novo líder do PSD, na sua primeira sondagem como líder da oposição, arrasasse os números que normalmente fazia Manuela Ferreira Leite (MFL). Sobre estes factos podem desenvolver-se vários argumentos e outras tantas explicações, mas da minha parte resumo assim: a imagem política de MFL, sublinhada pelo seu mais extremado assessor (Pacheco Pereira), remetia para um Portugal dos Pequeninos em versão século XXI, para o conflito permanente e o pessimismo militante; e o seu discurso político, que queria sagradamente tocado pela virtude contra a podridão de todos os demais, carecia de autenticidade e fluidez. A anterior líder pretendia aparecer como um modelo de virtudes mas era sobretudo a imagem de um Portugal salazarento e triste. Ao invés, Pedro Passos Coelho (PPC) está a posicionar-se na política com inteligência, responsabilidade e moderação, como uma alternativa de facto ao actual estado do País - que é péssimo. Sobretudo, traz a vantagem de não querer incomodar-nos com complexos de superioridade ética e moral. Para nos lembrar o que deveria ser o homem e a virtude, vem aí o Papa. E mesmo ele transporta, como se sabe, a cruz das imensas contradições entre o caminho que prega e a realidade dos atalhos em que alguns membros da sua Igreja por vezes caminham… 2 O Barómetro da Marktest para a TSF e Diário Económico é histórico porque dá o PSD pela primeira vez à frente na era Sócrates. Ora como Passos Coelho não teve tempo para fazer o que quer que fosse, a não ser exercitar o bom senso e o sentido de Estado (coisa não de somenos face ao que havia), este resultado deve corresponder não só ao desenvolvimento da crise económica e social, que não pára de se agravar, como à esperança de ver nascer, enfim, seis anos depois, uma real alternativa à governação socialista. Um resultado destes, e com números tão relevantes, sendo meramente um primeiro estudo - e outros se seguirão, de outras entidades -, tem de ser visto como uma responsabilidade. O PSD está a iniciar um caminho que pode significar o regresso ao poder. Será, aliás, normal que assim aconteça. José Sócrates já ganhou duas eleições e só Cavaco Silva ganhou três (melhor dizendo, duas e meia). Com a realidade que vivemos, a crise à solta na Europa, será normal que o desgaste produza efeitos em crescendo. Passos Coelho é, por estranho que isso possa parecer, neste momento o dono do jogo. Depois de ter pacificado o partido em tempo recorde, a última semana correu-lhe muito bem, com a iniciativa da ida a São Bento e depois o encontro formal com alguns dos mais conhecidos economistas portugueses. Projectou de novo uma imagem tranquila, séria, realista, de um homem preocupado com o País e sem pressas de chegar ao poder. Ou seja, Passos Coelho sabe o que outros políticos às vezes ignoram: em democracia o que dá votos é a fiabilidade e a confiança, não é a agressividade e a crítica a qualquer preço. Só a revolução entrega o poder aos exaltados. Nesse particular, está a fazer um caminho que parece milimetricamente calculado e, até ver, reconhecido pela opinião pública.
O "achismo" ("Eu acho que") está instalado na Comissão Parlamentar de Inquérito ao chamado caso PT/TVI. Factos, provas, não há. Mas há ressabiados. E enquanto estes existirem, e estiverem disponíveis para o circo, há sempre motivo para um bom espectáculo político. Antes assim, porque problemas importantes temos de sobra...
Obs: Um artigo que deveria ser lido e reflectido pelos assessores mais intelectualizados de Sócrates e não pelos jornalistas que tem em seu redor, quais public relations de S. Bento.