sexta-feira

A incerteza da política e as poliarquias competitivas de Pedro Passos Coelho

Em Portugal pouco importa o que se é, mas o que já se foi, nesta linha PPCoelho encontra-se hoje com ex-ministros das Finanças, todos da área do PSD, pessoas estimáveis e intelectual e profissionalmente inteligentes que já deram provas à sociedade. Miguel Beleza, Catroga, Campos e Cunha (este é mais neutro).
Todavia, o denominador comum que os liga é terem sido do psd, sendo que Cunha saíu em ruptura com Sócrates por causa do TGV, mas todos têm hoje contas a ajustar com esse passado e não desistem dele. Mas, obviamente, nem tudo é partidário e político, permanece uma grande incerteza na eficácia desses grandes investimentos públicos que é o pomo da discórdia. Com a agravante de Portugal poder seguir pelo cano da Grécia, ante o ataque especulativo que nos empobrece.
Medina Carreira também adorna o ramalhete para deprimir mais a economia nacional. Mas a solução destes senhores, caso estivessem no governo, seria exactamente a mesma: seleccionar os investimentos, aumentar os impostos, cortar em algumas despesas correntes do Estado. Foi o que fizeram quando integraram o poder. Nada de novo, portanto.
Todavia, não podemos esquecer que o Estado em Portugal emprega quase um milhão de pessoas, depois há mais dois milhões de pessoas que estão dependentes desse nó, por via familiar. No plano do empresariado, sabe-se que a nossa estrutura produtiva - é formada por "piquenas e médias empresas", como diria a srª Ferreira, mas ou estão a fechar ou são insolventes, portanto todas elas dependem dos apoios e incentivos do Estado para produzir e exportar.
Logo, o Estado é que é entre nós "o grande patrão", o resto é paisagem, e sendo-o é natural que cria a ideia de que só ele pode (e deve) lançar as grandes obras públicas para gerar emprego e por a economia a mexer, desde que, naturalmente, o faça com regras através de concursos públicos que visem a incorporação da tecnologia e de todo o know-how nacional integrado na execução desses investimentos públicos. Pois se nós vamos para o Sul dos EUA produzir geradores de energia, através da Efacec, que fornecem a energia aos casinos da América, porque razão não poderemos integrar as linhas de produção do TGV, nem que seja pedindo uma ajudinha à defunda Sorefame - cujo capital de experiência não pode ser esquecido.
Mas a grande vantagem da entrada de PPC em cena foi, de facto, ter obrigado o PM a dialogar com o PSD e, assim, a dinamizar as poliarquias competitivas existentes em Portugal a fim de produzir a melhor doutrina económica, o melhor pensamento político a fim de se chegar a conclusões seguras acerca do que pode e deve ser o melhor para a economia nacional em matéria de realização de investimentos públicos.
Espera-se que estas reuniões de PPC com os ex-ministros das Finanças possa trazer essa luz, com estudos seguros e não difundir na opinião pública mais incertezas.
Mas, infelizmente, aquilo que acho irá suceder é mais incerteza, pois se não for o Estado em Portugal a dar o pontapé de saída para esses investimentos, não são, seguramente, as empresas do sector privado que ou estão falidas, ou não têm incentivos ou fundo de maneio para arrancar com uma pequena obra de vão de escada, quanto mais para fazer a linha do TGV, construir o aeroporto internacional de Lisboa ou as barragens tão necessárias à nossa agricultura que foi morrendo aos poucos pelas imposições comunitárias.
O mais curioso em tudo isto é notar que caso amanhã Sócrates convidasse Medina Carreira para substituir Teixeira dos Santos nas Finanças, o "catastrofista da Sic" faria exactamente o mesmo que o actual titular da pasta, e quem diz ele diz Catroga, Beleza e tutti quanti...
A lógica do exercício do poder nada tem a ver com a lógica da análise crítica nos media, eles sabem-no e é também por isso que não querem ir para o poder. Teriam depois de fazer exactamente o inverso daquilo que defenderam na véspera.
Mas uma coisa esta boa gente tem de compreender: a responsabilidade do analista é leviana e inconsequente; a responsabilidade do político é pesada e, por vezes, pode esmagar sociedades inteiras. E o pior, às vezes, é nada fazer fingindo que se decide algo...
Ou, pior ainda, criando um tabú..., tão típico de Belém!!!

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