domingo

Dia do trabalhador

Foi mais um dia do trabalhador e não foi necessário estar colado à tv para perceber que foram feitas as mesmas manifestações, de resto legítimas, foram reafirmadas as mesmas palavras de ordem, legítimas, proclamados os mesmos valores sociais, também legítimos. Mas a transição desta democracia para a democracia de opinião exige um desdobramento de personalidade dos cidadãos. Assim sendo, como é que as organizações originárias do mundo do trabalho poderiam ocupar-se dos interesses dos seus mandantes cujo salário é um estatuto entre outros? os sindicatos nada têm hoje a dizer aos seus membros quando se trata de responder às suas preocupações de consumidores, de contribuintes, de detentores de aforradores, sem esquecer as dos pais dos alunos ou de habitantes de uma zona poluída. Ou seja, os sindicatos são organizações respeitáveis, mas estão envelhecidas e ainda que precisem de se reinventar importa reconhecer que ainda não apareceu o actor social complexo que possa encarnar esse papel que concentre em si o conjunto das aspirações e os interesses dos trabalhadores, e essa função também não será representada pelos partidos políticos nem pelo Estado no seu conjunto. Então, neste particular, caímos num impasse cuja salvação é cada cidadão representar-se a si próprio, ainda que Estado, sindicatos, partidos e organizações conexas sejam mui respeitáveis neste tempo tríbulo em que vivemos. Enfim, as coisas tendem a complicar-se quando passamos duma sociedade vertical a uma sociedade horizontal, esta mutação veio baralhar tudo. Mas a democracia também é isto: ver o Carvalho da Silva, o sindicalista há mais tempo no poder em Portugal (ele ainda fala em rotação da classe dirigente e das elites, não é.., pois!!!) a cumprir o seu "habitual ritual anual" etc e tal... Mas também temos de ser sérios, uma sociedade sem sindicatos seria, porventura, mais injusta, desigual e anárquica.

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