quarta-feira

Política vs jornalismo

Os media são já há algumas décadas o pólo dinamizador de “molas” que pressionam três outras esferas de acção na sociedade: a Política, a Economia e a Tecnologia.
Os media acabaram por digerir e reciclar todas as formas de espectáculo e de diversão que existiam antes deles. A imprensa escrita alimentou-se do romance e dos folhetins; o teatro e as adaptações romanescas nutriram o cinema e a televisão. A rádio e a tv absorveram a música clássica e as variedades, mas também o circo, o desporto, o cabaré.
Actualmente essas actividades ou formas de espectáculo tornaram-se rígidas e sujeitaram-se às exigências do media que passaram a dar uma nova forma de organização social à própria sociedade pós-industrial em que vivemos.
Ora, como as mensagens difundidas pelos media – em que os jornalistas são os principais players - têm um alcance considerável – entende-se que há uma dimensão política dos media e, em particular, protagonizada por certos jornalistas: nuns casos por ressentimento e ódio do poder em funções, noutros casos por motivos de ordem ideológica, política ou até mesmo de natureza pessoal. O caso Mário Crespo inscreve-se nesta ordem múltipla de factores que não tem nenhum interesse público, mas que, por uma razão ou outra, lá vai sendo ventilado nos media por forma a que o próprio jornalista – que entendo ser demasiado parcial, subjectivo e tendencioso no exercício da sua função – desenvolva a sua ânsia de anti-poder pensando, assim, que presta um bom serviço ao próprio jornalismo político em Portugal. Está enganado.
Mesmo sabendo-se que a personalidade de Sócrates é dura e combativa, por isso, naturalmente, odiada por muitos, mas uma conversa privada num café deveria ficar nessa mesma instância: privada.
Recordo que no passado recente uma tal senhora Moreira, da direcção de Educação crucificou um professor (da área do psd, creio) por este, num corredor, ter apelidado o PM de filho duma senhora pouco honrada… Também aqui foi injusta e infame esse tipo de perseguição feito pela tal srª Margarida Moreia da referida direcção de Educação do Norte. E teve, creio, a cobertura, do próprio PM, o que a ser verdade ainda será mais lamentável. Isto é um ataque à liberdade - não já de expressão, mas de desabafo. Por isso, vejo agora com preocupação que o jornalista M. Crespo assuma o papel da srª Margarida - no papel censório ao direito que cada um de nós tem ao desabafo.
Isto é o grau zero da política e da administração cujos titulares deveriam ser destituídos na hora, mas para lá das maldades que o poder faz a alguns jornalistas, e das maldades que os jornalistas praticam com os agentes do poder – pois aqui ninguém é inocente – creio que a opinião pública deveria ser poupada a este tipo de quezílias, de perseguições políticas ou de perseguições mediáticas a políticos e, com base nisso, arregimentar as vontades da oposição partidária contra o partido do poder.
Ou seja, neste momento o jornalista Crespo, que até gosto de ver naqueles 30 segundos em que apresenta o jornalismo de excelência da CBS, está a tentar fazer, pelos imensos meios de que dispõe, mau jornalismo e má política, ou seja, tenta fazer política pondo em seu apoio Balsemão, outros jornalistas que se solidarizem com ele, alguns sectores da sociedade, líderes da oposição, designadamente o cds e o BE.
Onde é que fica aqui a isenção e imparcialidade do dito jornalista?! Tudo, portanto, se politizou, simplesmente por causa de um arroto à mesa dum restaurante...
Isto conduz-nos a outra premissa: se, de facto, alguém do poder difamou ou injuriou o referido jornalista este deve abrir um processo judicial contra essa pessoa e proteger o seu bom nome; agora um jornalista – que se afirma enquanto tal – ser convidado pelos partidos da oposição a fazer campanha por eles contra um determinado poder em funções, tal só desprestigia ainda mais a classe dos jornalistas, e revela, por outro lado, quão pérfida são as relações de alguns media com o poder.
Apesar de entender que Mário Crespo não é sinónimo de jornalismo isento, objectivo, rigoroso e imparcial e que não orienta a sua vida profissional na busca da verdade – acho que o dito jornalista há muito saíu da sua esfera de jornalista, que deveria observar, para fazer chicana política, precisamente com os trunfos e as armas que alguns políticos usam para – também eles – fazer a sua chicana política contra alguns jornalistas mal-amados.
No fundo, les uns et les autres usam as mesmas armas, as mesmas manhas, a mesma perfídia. Ambos se estão a marimbar para os interesses dos consumidores de informação e para os interesses dos eleitores, excepto em período eleitoral ou de fixação de audiências televisivas e shares de Pub.
E se isto tem algum fundamento, creio que Crespo há muito deveria ter abandonado o jornalismo e passasse a fazer política, pois é isso que ele tem feito com esta campanha de auto-promoção pessoal que está a encorajar na sociedade civil em torno de si, apelando a uma faceta de mártir que foi morrer às mãos dum PM raivoso e violento.
O que dirão os bons jornalistas sobre isto?!
Os media agem sobre a sociedade, fomatam os grupos existentes, influenciam as famílias, as profissões e as classes sociais. Mas essa influência deve ser positiva, construtiva a fim de moldar inovadoramente a consciência colectiva, e não porque um jornalista se sente visado por uma boca privada que um agente do poder diz dele à mesa dum restaurante. Seja Sócrates, Balsemão ou o Quicas Fonseca Benevites... Então e o que cada um de nós (jornalistas ou não!!!) diz dos políticos, dos empresários, dos médicos, dos advogados, enfim, até dos nossos amigos e familiares. Seguindo a onda bipolar e esquizofrénica de certos jornalistas altamente tendenciosos, por essa óptica, Portugal estaria sentado no banco dos réus diariamente, já que a todo o momento criticamos – por vezes com nomes feios – alguns sectores da nossa sociedade.
De facto, o jornalismo ultrapassa em muito as competências demonstradas pelo sr. Crespo, e os media devem ser entidades formativas e não para ajudar jornalistas em fim de carreira a serem mártires, projecto sem finalidade ou causas que nenhum interesse têm para a sociedade portuguesa.
Mesmo que o dito jornalista seja agora, lamentavelmente, erigido como troféu de caça do CDS de Portas que está sempre à coca para ver como poder parasitar as vantagens do sistema político e daí extrair dividendos políticos. Todas as oportunidades são boas para Portas, líder dum micro-partido.
Por outro lado, o discurso de superfície de certos jornalistas - ao procurarem uma intencionalidade ética para projectar os media enquanto instrumentos da democracia - e aí fixar os valores da neutralidade, verdade, objectividade, distanciamento - acabam por ser ainda mais manchados com estórias deste quilate, do "diz-que-disse" à mesa dum restaurante e vender papel à boleia daquilo que todos nós já sabemos que uns dizem dos outros.
Ou será que M. Crespo, na sua vida particular e junto do seu inner circle, acha que Sócrates tem as virtudes da Madre Teresa de Calcutá... Basta de tanto cinismo e hipocrisia.
Como cidadão eleitor, como consumidor de informação e como utilizador das TIC disponíveis na sociedade, confesso que os media deveriam dar atenção a outras agendas e preterir os interesses mesquinhos do umbigo de Crespo, mesmo que um titular do poder tenha dado um arroto menos contido à mesa dum restaurante num ambiente de carácter privado.