Desagrado de Cavaco é "intriga mesquinha" para Sócrates
As notícias vindas a público de que o Presidente estava "desagradado" com Sócrates, por este ter falhado o último encontro semanal em Belém, deixou outro "desagrado" em São Bento. O Gabinete do primeiro-ministro garante que só um atraso o impediu de chegar à reunião. E fala de "intriga mesquinha, a propósito e a despropósito, contra o primeiro-ministro".DN
Um atraso de José Sócrates, que o impediu de cumprir o encontro semanal com o Presidente da República, é o pretexto para o mais recente episódio da já longa história de desentendimentos entre Belém e São Bento.
Em resumo, o primeiro-ministro falhou o encontro e, nos últimos dois dias, dois jornais diferentes noticiaram o "incómodo" e o "desagrado" na Presidência com o facto - sem qualquer citação formal. As notícias, por seu lado, provocaram incómodo em São Bento. E ontem, ao DN, o Gabinete de Sócrates foi claro na resposta ao alegado desagrado do Presidente: "O Gabinete do primeiro-ministro já não estranha a intriga mesquinha que, a propósito e a despropósito, é colocada nos jornais contra o primeiro-ministro."
O caso foi espoletado com a antecipação da audiência habitual entre o Chefe do Estado e o chefe do Governo. Sócrates tinha na agenda de quinta-feira uma deslocação até Copenhaga, para participar na cimeira do clima, pelo que pediu ao Presidente a antecipação do encontro a dois. Acontece que, na quarta-feira, nada correu de acordo com os planos. Primeiro, Sócrates chegou atrasado a uma cerimónia com formandos da GNR, em Portalegre. Foram 45 minutos.
Depois, o caminho para Beja - onde ia participar no encerramento das jornadas do PS - provocou nova demora, a tal ponto que a sua intervenção começou apenas às 16.00 (quando estava prevista para as 13.00). Nas duas circunstâncias, Sócrates pediu desculpas em público, justificando o facto com o mau tempo e uma má programação da deslocação - mas nem evitou ser assobiado pelos pais dos jovens GNR, logo em Portalegre.
Dito isto, era impossível chegar a horas a Belém. Primeiro para a posse dos novos conselheiros de Estado; depois, para o encontro semanal. Mandou Luís Amado, ministro de Estado, a substituí-lo no primeiro ponto da agenda e informou o Presidente de que não conseguiria chegar a horas para o segundo.
O desencontro acabou, porém, por suscitar notícias nos dias seguintes. Primeiro, no Diário Económico, na sexta-feira, onde se citava o "incómodo de Belém" perante o facto de Sócrates ter "trocado uma reunião de Estado por uma reunião partidária", informando "poucas horas antes" o PR; depois, no Expresso de ontem, que reiterava o "desagrado" do Presidente perante o mesmo facto.
Ao DN, o Gabinete do primeiro-ministro garante que "não é verdade" que Sócrates "tenha trocado uma reunião de Estado por uma reunião partidária".
"Simplesmente não conseguimos chegar a tempo para a cerimónia de posse dos conselheiros de Estado, pelo que [o primeiro- -ministro] pediu ao ministro dos Negócios Estrangeiros que o substituísse", acrescenta a mesma fonte. De resto, em São Bento alega-se que Sócrates ainda terá sugerido o adiamento por umas horas do encontro a dois, o que não terá sido possível por agenda do Presidente da República.
Mas o que desagradou mesmo ao Gabinete de Sócrates foi ver notícias sobre o assunto na imprensa. São Bento fala de "intriga mesquinha", "colocada nos jornais", numa rara declaração oficial sobre os relacionamentos institucionais com a Presidência da República. Os próximos capítulos estão, agora, prometidos para o Palácio de Belém, na próxima quinta-feira, onde decorrerá, enfim, o encontro semanal a dois.
Obs: Sugira-se a S. Bento que suspenda as reuniões partidárias, sobretudo porque o país já não está em eleições; recomende-se a Belém menos amuo, e, como vamos entrar num ano de eleições presidenciais - suscite-se a Cavaco que não cometa os mesmos erros de Sócrates - que já devia ter um GPS para saber onde fica Portalegre e que distância dista doutros pontos do país. Digamos que este tipo de amuos decorre da falta de ideias centrais para fazer sair Portugal da crise. Numa palavra: os portugueses mereciam melhor.
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