Martin Heidegger e a ocultação do ser
Quando se avalia a questão do terrorismo, sobretudo após o 11 de Setembro de 2001, essa "catástrofe" que revolucionou a percepção que o homem passou a ter do mundo (e de si próprio!!!) e matou milhares de homens e mulheres inocentes de forma bárbara, tem, necessáriamente, que se apreciar a política e o direito disponíveis no mercado das grandes decisões públicas nacionais, internacionais e globais, como parece decorrer da doutrina que os EUA querem fazer crer ao mundo ao julgar os terroristas com base nos procedimentos do Estado de direito e segundo as regras democráticas, como abaixo sistematiza AV no seu artigo no DN. Mas não são apenas os terroristas e os seus miseráveis métodos de racionalização da violência que são cirúrgicamente ocultados a fim de provocarem o maior dano possível a uma sociedade ou a uma civilização. É o próprio homem que constitui um mistério para si próprio, ele representa uma dimensão relativamente à qual ele não tem acesso privilegiado como observador de si mesmo. Neste caso, a verdade não corresponde à sinceridade nem a democracia traduz transparência, nem, no limite, o direito aplicável aos referidos terroristas globalitários, poderá ser sinónimo de efectiva justiça, como pretendem os EUA ao julgar os terroristas do 11 de Setembro de 2001 segundo aquela normalidade constitucional. Foi talvez o "odiado" filósofo Martin Heidegger, alí de costas, quem primeiro fixou essa noção de ocultação inevitável, já que ela não é um exclusivo desses operadores do crime global contemporâneo, nem sequer apanágio da subjectividade de cada um de nós, mas sim um reflexo inelutável da auto-ocultação do próprio ser humano. E se não utilizarmos a razão para boas finalidades sociais, sou tentado a admitir que cada homem, cada um de nós é, ou pode ser, um terrorista em potência.
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