sábado

A economia do invisível, a sedução pela corrupção e a (noção) de felicidade. Secret Service...

A linha de progressiva desmaterialização - à medida que a energia se converte num efeito de informação - dá também primazia à economia do imaterial e do invisível. Podemos até ter deste processo uma perspectiva de euforia conforme nos sistematiza C. Goldfinger - cujo pensamento aqui sumariamente recuperamos - ao relembrar que a economia industrial assentava no progresso técnico, visando eliminar as condicionantes materiais que impedem a satisfação das necessidades físicas.
A sua dinâmica era fundamentalmente quantitativa e linear: mais produção e consumo. Hoje, na economia do invisível/imaterial - a ideia de progresso técnico perdeu a sua significação, já que a acumulação física, aparentemente, já não tem sentido num universo etéreo povoado por dados e imagens. A dinâmica, tal como os trilhos quase imperceptíveis das práticas de corrupção na sociedade portuguesa (e europeia), assume agora uma face mais qualitativa, subjectivada que conduz ao enriquecimento. Ainda que isso comporte uns anos de cadeia.
E a ser assim, a própria noção de felicidade que criámos também está em mudança e exige meditação, já que em inúmeros casos essa mesma felicidade comporta, nos seus juízos prévios, a possibilidade de prisão. Embora a ideia de que se consegue escapar acabe sempre por primar nessa tensão entre legal vs ilegal, bem vs mal. A felicidade parece entrincheirada nessa dialética, e, hoje, muitos de nós, cidadãos comuns ou homens ligados à política e ao mundo dos negócios, logo com especiais responsabilidades sociais, actuam com tal vigor que parecem destemer os riscos e as consequências das suas acções e práticas, mais ou menos encobertas.
Verificando-se também em todo esse processo que a sedução pelo dinheiro configura a impotência crescente da política perante o esmagamento do dinheiro, restando-nos pensar que caberá à justiça - aparentemente a tábua de salvação - a resolução destes imbróglios em gestação na sociedade portuguesa. Mas como a justiça é aquilo que todos nós sabemos de ginjeira, resta-nos pensar que estamos entregues a nós próprios, ou seja, à bicharada. Eis as noções de felicidade que enquadram alguns comportamentos na sociedade portuguesa que fazem carreira em certos meios banco-burocráticos com incursões nítidas pelo universo político.
No limite, estas práticas - porque comportam a possibilidade de se "ver o sol aos quadradinhos" alí em Caxias ou noutro estabelecimento prisional mais periférico - empurram-nos para reflexões mais elaboradas acerca do espaço e do tempo em que nos é dado viver, já que na cadeia estas duas noções (espaço e tempo a que kant concedeu alguma dignidade), proeminentes em filosofia - elas não fazem sentido, ainda que algumas celas estejam equipadas com tv, net e outros apetrechos de luxo em contexto de privação da liberdade.
Para quem já aufere salários brutais ao fim do mês, que intervalam os cinco e catorze mil contos, pergunto-me se será isto a felicidade, ou uma prótese dela?!
Valerá isto uns anos de cadeia e o nome manchado na praça pública?
Creio que não..., mesmo em nome da economia do invisível.

Secret Service - Flash In The Night