sexta-feira

Justiça e lealdade. Evocação de R. Rorty

Todos nós esperaríamos ser ajudados se, perseguidos pela polícia, pedíssemos para que a nossa família nos escondesse. A maioria de nós concederia tal ajuda, mesmo sabendo ser nossos filhos ou pais culpados por um crime sórdido. Muitos ficariam motivados a mentir sob juramento para lhes fornecer um falso álibi. Mas, se uma pessoa inocente for condenada equivocadamente como resultado de nosso perjúrio, a maioria de nós fica dilacerada por um conflito entre lealdade e justiça. Esse conflito será sentido, contudo, tão somente na medida em que nos identificarmos com a pessoa inocente que prejudicamos. Se for com um vizinho, o conflito provavelmente será intenso. Se for com um estranho, sobretudo alguém de raça, classe ou nação diferentes, o conflito poderá ser consideravelmente mais fraco. Deve haver algum sentido em que ele ou ela seja "um de nós", antes de começarmos a ficar atormentados pela questão de se fizemos ou não a coisa certa ao cometermos perjúrio. Assim, pode ser também adequado nos descrever como divididos entre lealdades conflitantes - lealdade para com a nossa família e grupo amplo o suficiente para incluir a vítima de nosso perjúrio - em vez de divididos entre lealdade e justiça.