E o Muro caiu… Quatro obras de utilidade para situar este 20 anos após a queda do Muro de Berlim
Texto: Pedro Justino Alves Foi há precisamente 20 anos que aconteceu um dos momentos marcantes do passado século: a queda do Muro de Berlim. Para entender este momento histórico várias editoras lançaram obras no mercado nacional que merecem realce. Aqui ficam quatro: «A Segunda Guerra Mundial», de Martin Gilbert (Dom Quixote), «O Mundo Perdido do Comunismo - História do Quotidiano do Outro Lado da Cortina de Ferro», de Peter Molloy (Bertrand), «A Queda do Muro», de Olivier Guez e Jean-Marc Gonin (Oceanos), e «Revolução 1989 - A Queda do Império Soviético», de Victor Sebestyen (Presença). «A Segunda Guerra Mundial», de Martin Gilbert
Martin Gilbert é considerado mundialmente um dos grandes historiadores ingleses dos nossos tempos e isso é suficiente para termos o imprescindível rigor neste tipo de obras. «A Segunda Guerra Mundial» pode ser dividida em três partes. A primeira desde 1939 até 1942, basicamente a ascensão e a implementação do Nazismo (cerca de 500 páginas); a segunda entre 1943 e 1945, a derrota da Alemanha e do Japão (cerca de 450 páginas); e a terceira entre 1945 e 1989 (ano da edição do livro), uma visão muito breve do pós-Guerra (cerca de 60 páginas).
Para quem pretende entender o que foi e o que significou a Segunda Guerra Mundial, com as suas inevitáveis consequências, é essencial ler a obra de Martin Gilbert, já considerada a referência nesta temática, embora apresente um senão: por abordar centenas de assuntos (o extermínio judeu, a tecnologia militar, o jogo político, os serviços secretos, etc.), acaba por não tratar em profundidade cada tema. Um pequeno pormenor insignificante, pois o historiador inglês consegue dar na perfeição uma visão geral e completa do que foi este conflito. Há dois factores que fazem com que a leitura de «A Segunda Guerra Mundial», editado no nosso país pela Dom Quixote, seja bastante agradável: a temporalidade, já que as páginas sucedem-se como se fossem dias; e as inúmeras histórias pessoais retratadas por Gilbert (evidentemente, as dos campos de concentração são as mais aberrantes). Nota ainda para a extensa bibliografia, sempre útil para quem procura aprofundar o tema, e o índice remissivo geral, que permite uma fácil consulta.
«O Mundo Perdido do Comunismo - História do Quotidiano do Outro Lado da Cortina de Ferro », de Peter MolloyO que foi viver na Alemanha Oriental, na Checoslováquia e na Roménia comunistas? Esta é a resposta que Peter Molloy, através de centenas de testemunhos na primeira pessoa, procurou mostrar numa série de televisão para a BBC que acabou por ter uma edição em livro, em concreto «O Mundo Perdido do Comunismo - História do Quotidiano do Outro Lado da Cortina de Ferro», editado em Portugal pela Bertrand. É verdadeiramente fascinante ler esta obra, que consegue reunir as mais diversas opiniões dos mais diversos sectores sociais, desde o cidadão comum até aos políticos mais influentes. O intuito de Molloy foi demonstrar antes de tudo que, nestes três países, tão diferentes entre si apesar de estarem supostamente sob um único regime, havia mais do que «os espiões da Guerra Fria, a vigilância da polícia secreta, a repressão política e o activismo dos dissidentes». Como comprovamos nas páginas desta obra, também houve pessoas «felizes» com o regime, que tinham vidas «perfeitamente normais» e que hoje sentem «nostalgia em relação à segurança e à estabilidade sob o regime comunista».
«Gente do partido», «Guetos dos deuses», «Julgamentos e castigos», «Heróis do trabalho», «Juventude socialista», «Cidadãos em acção», «Os Homens que aboliram Deus», «Polícia secreta», «Saúde nacional», «Sexo socialista», «Dissidência» e «Queda» são os capítulos escolhidos por Molloy para retratar uma época e uma ideologia, que fica clarificada nas palavras de Walter Womacka, artista do realismo socialista.
«Tenho saudades da maneira como as pessoas viviam em conjunto. Viver lado a lado era agradável na RDA. Há muitos cidadãos da RDA que hoje sentem a falta desta realidade. As questões de dinheiro não tinham importância nesse tempo, enquanto hoje são mais importantes do que tudo o resto, porque não há nada que não dependa do dinheiro. Uma boa coisa na Alemanha Oriental era a confiança que as pessoas depositavam umas nas outras, a ponto de falarem dos seus negócios aos concorrentes. Isso seria impossível hoje. São estas as coisas de que sinto falta.»
«Revolução 1989 - A Queda do Império Soviético», de Victor Sebestyen Victor Sebestyen chega a uma conclusão que não é nova, ou seja, que a queda do Muro de Berlim aconteceu nos bastidores e não nas ruas, mas o seu livro, agora editado pela Presença, mostra com alguma claridade como essa decisão acabou por ser determinante na história recente mundial. Jornalista e com outras obras históricas editadas, Sebestyen reúne em cerca de 500 páginas como aconteceu o colapso do Leste Europeu, tendo em Berlim o seu Canto do Cisne. O livro não se limita a Alemanha Oriental, pelo contrário, desembarca nos países que fizeram parte do mundo soviético enquanto membros do Pacto de Varsóvia, revelando as suas políticas mas também os seus horrores através de vários testemunhos. Numa viagem onde os principias nomes do período não são esquecidos, como Gorbachev, Honecker, Ceausescu, Reagan, Bush ou Tatcher, «Revolução 1989 - A Queda do Império Soviético» é um retrato fiel do que realmente aconteceu até o dia 9 de Novembro de 1989.
«A Queda do Muro», de Olivier Guez e Jean-Marc Gonin «A Queda do Muro»: um thriller real
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