quarta-feira

O soft power de Durão barroso e o TGV que meteu na gaveta

Nota prévia: eles, nítidamente, não se abraçam, a função daqueles quatro braços é impedir que, efectivamente, se abracem. E santana ainda terá conjecturado uma cabeçada, por conta das guerras antigas da Faculdade de Direito... Agora quer ser edil em Lisboa - que no passado recente ajudou a endividar, gerou o caos urbanístico e a criou um caldo de cultura politico-administrativo propício à corrupção.

Investimentos: Durão Barroso recusa sanções a portugal, in CM
‘Queda’ do TGV sem castigo
O presidente da Comissão Europeia recusou ontem que Portugal possa ser penalizado a nível de fundos comunitários pela não-concretização do TGV. "Não, sanções não", sublinhou Durão Barroso em Lisboa, onde participou no 175º aniversário da Associação Comercial de Lisboa. (...)
Obs: Tenho para mim que Durão suavizou a posição porque, na prática, foi ele que queria lançar o TGV (com 5 linhas para Espanha), mas como não teve envergadura política em 2004 para lançar o projecto, engavetou-o. Já estava com os olhos postos na Europa.
Cinco anos volvidos, hoje investido nas funções de presidente da CE (com a ajuda de W. Bush, Asnar e Blair na rampa de lançamento que foi a cimeira dos Azores) - resolve fazer o mea culpa, ainda que a pretexto de ajudar o Governo português a não perder as verbas que suportam o projecto de alta velocidade.
É o habitual cinismo político, hoje com traços neorealistas e bruxelizados.
Até nisto Durão meteu o seu interesse pessoal à frente do interesse nacional, de caminho deu mais uma borla à srª Ferreira, a pupila de Belém (e ex-porta-vox não autorizada de Cavaco, como diria, e bem, Vital Moreira).
No fundo, Barroso não mudou nada desde o tempo em que dava umas aulitas na universidade Lusíada - e com quem ninguém aprendia coisa útil. Dalí só mesmo uma pose de falso estadista aprimorada com aquele trejeito do queixo a fitar o céu, alguém lhe deve ter dito que o tique lhe confere o selo de estadista. Mas, na prática, apenas lhe garante uma nota de pé-de-página na história geral da Europa quando um dia se fizer o balanço destes últimos anos.
Ainda no outro dia o previsível Marcelo disse de Barroso uma coisa curiosa e que reflecte bem o estado da arte: "barroso fez um bom mandato na CE porque conseguiu gerir bem os equilíbrios internos". Pobre Marcelo...
Mas de projecto europeu, visão, alcance histórico e geopolítico e de pujança económica, a Europa de barroso vale Zero.
Durão, se tiver sorte, será recordado pelos futuros historiadores com o único ex-PM que conseguiu - quase em simultaneo - ser tão mau em Portugal (como PM) como presidente da CE.
Mas Belém, Leite e alguns economistas parolos satelizados em torno de Durão afirmam o contrário.
Não conheço maior ofensa a Jacques Delors do que dizer, ainda que na brincadeira, que Durão foi um bom presidente da CE.
Mas a magna quaestio nem sequer se centra em durão ou tgv (que ele não soube ou não pode concretizar), mas na triste circunstância histórico-política de não ter sido o António Vitorino, como devia, o presidente da CE, de resto considerado pelo colégio de comissários o melhor entre os melhores. Aquele que melhor preparado se encontrava técnica, politica e culturalmente para o cabal desempenho da função.
Daí a necessidade de reformular toda esta questão: que lucros cessantes a Europa perdeu pelo facto de não ter sido o ex-Comissário da Justiça e Assuntos Internos o presidente da CE?
A resposta é tão simples quanto breve: perdeu muito, seguramente.
Durão dá à Europa uma mão-cheia de nada, e aos tolinhos dos portugueses uma sopa de pedra que nos satisfaz por, afinal, já não sermos castigados pelo adiamento da realização do TGV, projecto de sempre adstrito a este miserável PSD que, de 2004 até ao presente - se anquilosou.
É a vida, e cada um tem o que merece. Se calhar a Europa merece mesmo um barroso (2ª via), como a Lapa merece a srª Ferreira. Estão bem um para o outro no cruzamento das linhas de Lisboa-Bruxelas.