terça-feira

Joaquim, o Último dos Profetas - por António Fidalgo -

António Fidalgo Joaquim, o Último dos Profetas Romance
Nos nossos dias, em que o papa é João Paulo II e António o patriarca de Lisboa, Deus dirigiu a sua palavra a Joaquim, filho da viúva Isaura, quando guardava o rebanho de cabras e ovelhas nas campos da Idanha. Eram três horas da tarde do primeiro Domingo de Agosto quando Joaquim viu um remoinho que avançava direito como uma coluna pelo caminho do Areal. Aproximando-se a coluna de poeira cada vez mais, persignou-se e começou a rezar pelas almas. De súbito tudo ficou em silêncio e o sol de Verão tornou-se ainda mais ardente. Joaquim encheu-se de medo e de suores frios. [...]
Obs: Uma sugestão de romance para este Verão, que poderá servir para múltiplas coisas: desentoxicar do caldo de cultura mercantil (e mercantilizado) em que vegetamos, regressar às origens, recuar no tempo para "comprar futuro", afinar os fios ténues e traidores da memória, tornar Deus inteligível (ou perder as esperanças n' Ele), queimar alguns (ou todos) dos nossos pecados capitais e aprender a ser-se mais homem nesta incompletude da espuma dos dias que passam, deixando cair as máscaras da simulação (mostrando o que não se tem e o que não se é) ou da dissimulação (ocultando o que se tem e escondendo o que se é).
Contudo, e pelo pouco que sei e tenho visto por cá, nesta vidinha terrena (que encanta tanto quanto desencanta), já não sei o que será pior (ou melhor): se o esgotamento da paciência de Deus; se a detecção do seu oculto entusiasmo!?
A Sua falta de paciência já a conhecemos. Tenho, confesso, alguma curiosidade em conhecer o Seu entusiasmo. Mas também isto é ilusão..., como tudo que é meta-físico.
Resta-nos guardar os "rebanhos" dos nossos pensamentos, como diria o Pessoa...
Sendo certo que, por vezes, há ficções mais reais do que a própria realidade. Além de que também não valerá viver uma vida que não pode ser posta em questão.
Dito doutro modo, na linha de Sócrates (o de Atenas): se não se pode ter liberdade de colocar questões, então não vale a pena viver. E aqui chegados batemos no ponto crucial da equação:
    • É que a vida só por si não é suficiente; as pessoas devem ter também a liberdade de analisar a sua própria existência, e até brincar com ela, se for caso disso...