Perguntas previsíveis dos jornalistas, respostas esperadas de Sócrates - razão por que os comentários que aqui fazemos não escapam a esses limites, a essa espuma dos dias de mais do mesmo neste tempo que passa.
Todavia, valerá a pena alinhar aqui alguns comentários que têm lugar num momento particular da conjuntura mundial, europeia e nacional e que é de retracção ao consumo, diminuição das exportações (fatal numa economia aberta e pequena como a nossa), dificuldade no acesso ao crédito, falências de empresas e de desemprego massivo. Tudo somado dá uma crise múltipla: financeira, económica e social, logo de confiança. Só falta um tremor de terra para chamarmos o Marquês de Pombal..., neste ano hiper-eleitoral.
É, portanto, neste colete-de-forças que tem lugar esta entrevista, da qual retenho algumas ideias-força:
1. A primeira nota é de forma e tem a ver com o facto de saber como poderíamos nós governar um País, com "todas aquelas mulheres belas ali de pé", a olhar para nós. Em vez de nos concentrarmos na política de Roma, de Portugal... Sócrates tem sido obrigado a desconcentrar-se com a armadilha que o grupo da Aroeira lhe montou com a finalidade de coadjuvar Pedro santana Lopes a ganhar as eleições legislativas em 2005. Resultado: perdeu. E perdeu de forma infame, assim como lamentável foi a conduta do seu então chefe de gabinete Miguel Almeida, hoje deputado do PSD. A história é conhecida, os suspeitos do costume...
2. As relações políticas entre Belém e S. Bento - que já aqui foram analisadas, funcionarão pendularmente, nessa trajectória há jogos florentinos, há sombras, lógicas discursivas, metalinguagens, o tríptico Sim-Não-Nim, narrativas criptadas, descodificadores ambulantes, assessores de meia tijela, assessores de tijela inteira que mais não são do que mensageiros entre o nervo da decisão e alguns jornais detidos por grupos económicos que viram chumbadas OPAs a empresas do Estado. Haverá de tudo, mas Sócrates esteve bem ao não assumir que as palavras de Cavaco - relativamente à manipulação das estatísticas para bronzear a crise, lhe diziam directamente respeito, e, por outro lado, deixou a mensagem de que o PR não é instrumentalizável pelas forças da oposição, nem para ajudar Leite (que, coitada, precisa mesmo de ajuda!!!). Portanto, a tal cooperação estratégica será aquilo que ambos quiserem fazer dela, e isso, naturalmente, dependerá das circunstâncias políticas no curto e médio prazos, condicionados que estão pelos cálculos socioeleitorais. Que são sempre imprevisíveis - como me dizia hoje um ilustre catedrático e politólogo de 1ª água, além de jurista e historiador das instituições, e também filósofo e poeta nas horas vadias, como diria o nosso amigo comum - Agostinho da Silva...
3. Em matéria de investimentos públicos nada de novo: Socas tenciona apostar nas grandes obras públicas, como o aeroporto internacional de Lisboa e o TGV, porque acredita que alavancam a actividade económica e geram emprego e riqueza - além de modernizar o País - a avaliar pelo método do custo/benefício com que tais estudos e projectos são realizados. Sócrates convidou até os jornalistas a lerem os referidos documentos na net do ministérios das Obras Públicas, mas duvido que o façam. De resto duvido até que Mário Lino os tenha lido. Devem ser uma maçada..., por isso Durão barroso os formulou mas deixou-os na gaveta porque percebeu não ter arcaboiço para os implementar, ainda que ciente da sua necessidade estratégica. Eu, confesso, preferia ler o Kamasutra acompanhado da Helena Christensen. Espero que Socas e Mário Lino não me levem a mal... Mas gostos não se discutem.
4. Os jornalistas ao correlacionarem as análises políticas que o jurista e ex-governante António Vitorino - tem no Notas Soltas - ficaram muito admirados por confirmar que o PM não se revê nessas análises. Será caso para perguntar aos jornalistas se acham que António Vitorino é "correia de transmissão" governamental ou é um analista isento, tanto quanto essa neutralidade é possível. Vitorino crê haver alguma proximidade entre os termos utilizados pelo PR e os que são utilizados pela líder da oposição, o PM não vê correlação nisso. Ainda bem, significa que o analista não vai dar bitaites para a tv do Estado procurando com isso ou agradar ao PS ou o seu líder ou condicionar os partidos da oposição; o mesmo, infelizmente, já não se pode deduzir das posições e análises de Marcelo - que quando espirra ocorre um vendaval na Lapa e Ferreira leite mostra o saiote, e quando se assoa põe os vice-presidentes da Manela juntamente com todo o grupo parlamentar a ratificar ou a contradizer aquilo que Marcelo debitou de véspera na sua missa domingueira. É uma verdadeira cacofonia... Daqui extraío um corolário lógico: as análises de António Vitorino são mais isentas e imparciais e não visam influenciar e/ou condicionar o poder em funções; as análises de Marcelo influenciam, condicionam e ainda envenenam as relações políticas na Lapa e nos mantideros do poder no plano nacional.
5. Sócrates acha que o futuro do modelo económico se atinge com ideias simples: apostar nas energias renováveis, nas escolas e na educação e formação profissional e nas TIC - em especial na banda larga. Qualquer país moderno que se queira modernizar e desenvolver tem de interiorizar este corpo de ideias e levá-las à prática. O modelo de desenvolvimento económico a isso o obriga, sob pena de não ser competitivo nos mercados globais e "morrer" por falta de mercados.
6. Uma outra ideia nuclear que retive da entrevista de Sócrates remete para a circunstância de cada um dos actores políticos nacionais ter de pedalar a sua própria bicicleta, o que interpretei como um estímulo ao mérito, ao trabalho e à crença que cada um de nós pode (e deve) ter, e se se esforçar pode ultrapassar o cabo das tormentas. Ou seja, não vale a pena pendurarmo-nos no vizinho do lado e fazer batota: seja na empresa, no Estado - na economia ou na política - esse é um jogo cujo método está viciado à cabeça e não funcionará, embora possa iludir por uns tempos. Cada um tem de trabalhar por si, ainda que esse resultado convirja para o bem comum - que em época de recessão demora a ver.
7. O Estado passou a ser a figura central na arbitragem dos conflitos das sociedades modernas, em Portugal isso é visível, quer ao nível da concertação social, dos apoios sociais às famílias e nos apoios às empresas. Também me parece um caminho racional e sustentável para fomentar o emprego e captar investimento que, por sua vez, gerará mais emprego. O problema é que hoje os agentes económicos não investem por causa da tal crise de confiança global - que tudo paralisa. Desde logo o acesso ao crédito. Sendo certo que a carruagem do meio não pode fazer andar as que estão na extremidade da linha - que é suposto puxar e motorizar o conjunto das composições. Com a economia passa-se o mesmo.
8. Apostar no investimento da requalificação dos quadros médios e superiores das empresas, designadamente do sector automóvel (e outros) - como forma de minorar o impacto negativo dos lay-off - também se afigura uma medida de eficiente aplicação, dado que quando a tempestade passar essas mesmas empresas poderão contar com os seus quadros mais qualificados e mais produtivos e competivos nos mercados internacionais e, ao mesmo tempo, no período de "vacas magras" - essas empresas também não foram forçadas ao despedimento, que é sempre um drama social a evitar.
9. Não se falou da agricultura, das condições do acesso ao crédito e de outras temáticas de interesse nacional. Em vez disso, os jornalistas perderam 20 min. com a m.... do Freeport - que mais não é, creio eu, do que uma cilada armada a Sócrates como aqueles motores a dois tempos: em 2005 e agora em 2009. Sabem-se quem são os actores, conhecem-se as suas motivações políticas, como (e onde) se reuniram, o resto terão as autoridades judiciais que apurar e resolver. É para isso que pagamos a magistrados vaidosos, arrogantes e improdutivos. Para termos uma justiça miserável. De resto, tenho para mim que quem deveria sentar-se no banco dos réus - neste e em inúmeros casos - era a própria Justiça - que apenas cura dos seus privilégios neocorporativos de tipo medieval e descura o essencial: fazer boa justiça em tempo útil.
10. Continuo a achar que seria mais interessante conversar com a Helena Christensen do que ler os estudos técnicos do ministério de Mário Lino...
_________________________________
Ler, com vantagem, este interessante artigo. Duma jornalista, certamente.., que não se deixa manipular.
por Helena Garrido - Visto da Economia -
Freeport e jornalismo
Código Deontológico dos Jornalistas Portugueses
1. (...)Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso.(...)
Não há dúvida que exibir o vídeo que temos visto na TVI não respeita os princípios básicos do jornalismo:
- os factos ali relatados não são comprovados pelo jornalista;
- podiam não ser comprovados mas poderíamos estar perante fontes credíveis, o que não é o caso.
- os "acusadores" de José Sócrates, designadamente Charles Smith, não podem ser considerados 'fontes credíveis'. Smith estava a justificar o desaparecimento de elevadas quantias de dinheiro. [...]
<< Home