domingo

Marcelo não perdoa a Sampaio e "intrumentaliza" Vital para fragilizar Sócrates e apoiar Durão em Bruxelas

Marcelo Rebelo de Sousa há 20 anos tinha esta aparência. Foi um ano políticamente fatídico para si, derrotado por Jorge Sampaio em Lisboa, restou-lhe dar o famoso mergulho no rio Tejo. Desde então ficou recalcado da política, presumo que tenha batido com a cabeça no calado de um navio que então passava transportando contentores de milho (galinhas e tractores) para África.
Vejamos o seu imenso cv e compulsemos isso com a política dos nossos dias, onde faz campanha on tv em prol de Leite, Santana e Rangel - depois de andar a criticá-los nos últimos tempos.
Marcelo foi ex-secretário geral do PSD e saíu da política pela porta pequena, quando P.Portas rebentou com uma aliança PSD-CDS/PP contra-natura; ex-candidato a vários cargos públicos, patrono em Celorico de Basto, nada que se farta e pratica desportos radicais. Ainda pensei que Leite o convidasse para cabeça de lista às europeias, por causa de tanta resistência...
E hoje diz-nos que o CDS de P.Portas escolheu uns testas-de-ferro (Melo, Teresa e Feyo - que maldade!!!) para o representar nas europeias; Leite em lugar de escolher um candidato abrangente (como Marques Mendes), escolheu o seu fiel e dedicado porta-vox na Assembleia da República, Paulo Rangel, cuja decisão dividiu mais do que uniu as hostes do PSD; Santana até qualificou Ferreira Leite de grande líder pela decisão ao escolher Rangel, tamanha gratidão de Santana pela sua nova madrinha política em Lisboa (que o passou a ver como a "boa moeda", segundo terminologia de Cavaco de 2004); Marcelo fez contas (sondajeiras) e concluíu, para dar uma ajudinha a Santana na capital, que este e a direita ganham porque a esquerda está desunida, e assim vinga-se (não) de António Costa mas de Sócrates - que querem punir pelas suas políticas no plano nacional.
Provavelmente, Marcelo, sendo morador em Cascais, também é dos que deseja mais circo, dívidas, caos urbanístico e um tremendo caldo de corrupção na CML, que foi precisamente o legado santanista, de má memória. No Governo, a desgraça ainda foi maior destruindo a autoridade do Estado e deixando Portugal ingovernável, a que Sampaio teve de pôr termo demitindo o impreparado Santana, o "menino-guerreiro" que hoje se autoproclama D. Sebastião, num terrível exercício de mistificação e de prostituição dos nossos símbolos nacionais e da nossa história.
Depois Marcelo, o mesmo recalcado que perdeu Lisboa para Sampaio em 1989, queria candidatar-se a PM e ainda almeja um apoio do PSD para ir a Belém, dá-nos mais este rebuçado doce: Vital Moreira anda a "comprar as guerras" que só penalizam o PS e favorecem o PSD.
Muito provavelmente, o douto Marcelo desejaria que Vital Moreira fosse para as páginas do Público fazer a apologia do dr. Durão num 2º mandato na CE (depois do que se viu no Iraque e na estagnação do próprio projecto europeu que Durão foi incapaz de dinamizar e projectar), e como Vital tem ideias próprias a esse respeito, Marcelo acha que isso é comprar uma guerra... O ideal, segundo o comentador, seria mandar os valores e os princípios às malvas só para Vital alinhar a sua posição com a de Sócrates e dizer Yes a Durão. Marcelo, como eminente docente (e também constitucionalista), parece desconhecer o significado do conceito de pluralismo político (e pluralidade de opiniões)...
Ficámos a saber que para Marcelo a política (europeia) é sinónimo de borregada e carneirada, todos juntos pensando o mesmo acerca do vazio em que a Europa (de Barroso) se converteu. A (tal) Europa dos equilíbrios internos do dr. Durão (que marcelo aprova e recomenda), o transmontano mais cosmopolita do mundo que até fala línguas sem sotaque..
Noto, todavia, que a doutrina de Marcelo evoluíu: há 15 dias, antes da Páscoa, defendeu Durão num 2º mandato porque geriu bem os "equilíbrios internos" na Europa (não fez "ondas", a expressão é minha), e essa gestão de gastronomia política europeia (de artificializar consensos acerca de coisa nenhuma) é que é para marcelo sinónimo do projecto Europeu. Ficámos, assim, a saber que marcelo está-se a marimbar para as reformas das instituições da UE, para a conquista dum estatuto de poder e influência que a Europa já teve no mundo no passado recente. Para Marcelo o importante é que Durão tenha gerido bem os equilíbriozitos internos europeus. E, acrescentou eu, os interesses da sua vidinha pessoal a que é completamente alheio a Europa e os interesses nacionais permanentes dos Estados membros.
Talvez por essa razão Marcelo desejaria que Vital fizesse um abaixo assinado a partir da Universidade de Coimbra dizendo:
"votem no cherne, nessa alfurreca maoista post-moderna que se bruxelizou e neoliberalizou, porque ele é português, transmontano e, ainda por cima, fala línguas sem sotaque."
Este Marcelo é cá um brincalhão...
No final, o comentador tinha dois livros na linha da frente para apresentar: os roteiros do PR e o Nós Europeus de Vital Moreira. Como estamos em eleições Europeias seria natural que... Mas o douto comentador optou pelos roteiros. Deve andar perdido...
Cansa-me ver Marcelo, tornou-se um homem demasiado previsível.
Isso não só estraga a política como danifica a análise.