quinta-feira

Um poeta que vive do mecenato político.

O poeta Manuel Alegre já disse tudo quanto de mau podia dizer do seu próprio partido. Não se identifica com a liderança, não se identifica com o programa e, pelos vistos, também discorda frontalmente da sua estratégia. Estando em rota de colisão com o programa do seu partido e nos antípodas do actual líder, só restava uma solução ao deputado: criar uma alternativa fora desse quadro político. Mas não. Alegre não tendo coragem para sair continua a minar o PS por dentro, seja com declarações de que vai combatê-lo, seja ainda fazendo um namoro promíscuo com o partido mais radical do espectro político nacional: o BE.

De cacetada em cacetada Alegre vai fazendo má poesia política dentro do seu próprio partido, o mesmo com o qual nenhuma identificação programática ou de liderança tem. A sua estratégica é simples e manhosa: provocar o partido na esperança de que algum dirigente faça uma declaração mais contundente para Alegre se vitimizar e, com base nisso, desenvolver o psicodrama e apresentar a queixa. Ou melhor, ter um pretexto para apresentar a sua factura:

  • Obter cobertura para Belém ou para a Assembleia da República por parte do PS. E enquanto isso não ocorre vai xingando o partido. Vai chantageando com declarações avulsas. Eis os métodos e os objectivos deste deputado cansado que combateu o salazarismo no exílio e 35 anos depois apresenta a sua factura.

De facto, Alegre, que hoje vive do expediente e do psicodrama, faz lembrar aqueles gestores gulosos que se viram para os accionistas das empresas em que trabalham a reclamar um 2º vencimento com comissões extra caso consigam aumentar as exportações da empresa.

Ao dizer que vai querer ter uma conversa com o PM, Alegre apenas denuncia uma miserável noção da democracia e uma lamentável concepção da política e da coisa pública, que ele entende resolver a troco de um putativo apoio a Belém ou a outro tacho importante no aparelho de Estado.

Afinal, onde está a ética e a moral deste combatente por Abril cujo contributo foi importante para a conquista da Liberdade?! - que hoje tudo parece querer traficar em função da promessa de um lugar em Belém...

Eis a moral do poeta, a sua "dimensão de Estado" traficando apoios e lugares como contrapartida do seu silêncio futuro até às eleições legislativas.

A conduta lamentável deste mau deputado, porque nunca apresentou nenhuma iniciativa legislativa na AR, revela o pior que a política tem: oportunismo e gula de poder. O PS jamais deverá negociar sob chantagem de alguém que, neste quadro concreto, revela ausência de qualidades políticas, éticas e morais - contrariando até a imagem e a postura tradicional do poeta.

Há "políticos" que deviam abandonar a política antes que a política os abandone a eles. Alegre representa hoje o pior que a política tem para oferecer de esperança e de exemplo às futuras gerações.

Alegre já não é apenas um mau deputado, ele representa a ideia de que tudo é transacionável em política. O seu cinismo e a sua hipocrisia política faz com que as palavras de Lello, Candal, Vitorino e todos aqueles que afirmam a verdade - vejam nele a metáfora do vazio, um gestor de ambiguidades, um homem sem projecto, vaidoso e egocêntrico.

Doravante, o PS com interlocutores assim, nem sequer deveria falar. Precipitá-lo nos braços do BE talvez seja o seu destino. E se calhar isso nem irá custar votos ao PS. Perder a alma política - negociando com alguém que exerce chantagem sobre o seu próprio partido, é que representaria uma valente perda de votos para o PS.