Evocação de Alexandre O'Neill
Alexandre O'Neill gostava de habitar os últimos andares dos prédios que habitava. Assim tinha boas vistas sobre a cidade, especialmente sobre o rio Tejo, sempre fonte de inspiração para qualquer poeta digno desse nome. A dada altura O'Neill explica:
A gente ia para o telhado, com umas mantas. Levávamos sandes de frango assado para o telhado e comíamos. Deitávamo-nos a ver as estrelas. Víamos a cidade inteira. Depois remata assim:
O poeta mora no telhado
com a mulher e o filho.
A renda é cara; faz calor e faz frio.
É um 3.º alto, sem elevador.
Há baratas
e aventuram-se as visitas a ir lá
visitas que depois
umas não dizem senão um tudo-nada
que ao poeta é que cabe falar...
... (aqui uma linha censurada)...
Outras descrevem a última lagosta
que queriam comer,
e os crocodiletantes, depois de beber,
necessitam muito de ler...
in Alexandre O'Neill, Uma Biografia Literária de Maria A. Oliveira.
<< Home