quarta-feira

Richard Florida e a emergência do futuro em Lisboa

Vemos aqui Richard Florida em todo o seu esplendor na defesa das cidades criativas assente nos três t's (tecnologia, talento e tolerância), qualidades importantes, mas que hoje não chegam para encarar os problemas e resolvê-los corajosamente, ou seja, tomar em mãos obras que alteram a vida de milhares de pessoas causando-lhes transtornos diários, como a que está sendo feita na Ribeira das Naus - que consiste em tratar das infra-estruturas de sanemanento de águas residuais e de renovação de condutas de abastecimento de água à zona entre o cais do Sodré e Algés, consolidando também as fundações do Torreão Poente, hoje em risco de ruína. Obras que aguardavam realização há décadas, e que agora, em ano eleitoral e com o desgaste que causa aos transeuntes, está sendo executada. Portanto, as cidades criativas que fala Florida encontra outra realidade no terreno, pois na própria capital de Portugal os esgotos nessa zona nobre da cidade ainda estavam sendo despejados literalmente em condições terceiro-mundistas. Pelo que aos três t's terá que se adicionar sempre mais alguns ingredientes. Sob pena de a cidade ideal não se encontrar, a exclusão social aumentar, as condições de mobilidade não se resolverem e de tudo isso resultar uma cidade velha, estragada e doente - que afaste ainda mais as pessoas da capital. Daí a necessidade urgente de certas obras - como os esgotos que irão servir 120 mil lisboetas - que deixarão de lançar ao rio, mesmo em frente ao cais das Colunas, esgotos sem qualquer tratamento. No fundo, para que uma cidade possa pôr em prática processos e métodos sofisticados e criativos para desenvolver indústrias criativas e potenciar uma perspectiva global de negócio tem, primeiramente, de assegurar boas condições de habitalidade na cidade. O que não impede, como está sendo realizado na capital, que muitas coisas se possam fazer bem em simultâneo. Criando uma Lisboa sustentável, contribuindo para uma mudança de paradigma, o que implica que os cidadãos tomem consciência da necessidade de alterar mentalidades, atitudes e identificar as melhores políticas públicas municipais. Como diria Peter Drucker, e nisso António Costa tem sido pródigo, existe um tempo para fazer o futuro, precisamente porque está a fluir. Este é o tempo para agir.