quinta-feira

Pacheco Pereira e o desastre político chamado Ferreira Leite

Desde o Congresso de Guimarães, e até mesmo antes dele, que o sociólogo, politólogo, historiador, político e activo conselheiro de Manuela Ferreira Leite se tem apresentado nos media como o principal "agente imobiliário" de Ferreira Leite junto do eleitorado. A sua persistência em promover pessoal e politicamente Ferreira Leite deixa subentender que Pacheco procura rentabilizar ao máximo um "imóvel em ruínas" num mercado para compradores de classe A, i.é, de elevados rendimentos. E por alguma razão (ou razões) - essa mesma classe A - bem como as classes B e C - não têm feito os seus lances no sentido de "comprar" as propostas políticas de Ferreira leite que são indirectamente as que Pacheco também defende, naturalmente. Daí a analogia do mercado político com o mercado imobiliário e, consequentemente, a baixa descida nas intenções de voto que as sondagens têm revelado acerca de Ferreira leite.

Mas o mais curioso tem sido os argumentos expendidos pelo próprio Pacheco Pereira para justificar essa queda progressiva de Ferreira leite nas intenções de voto. Diz Pacheco, pasme-se, que são os media que têm desenvolvido uma campanha negra contra a Manuela, e que, dessa forma, ajudam o Governo a manter-se à tona. No entender do gúru de Manela são os jornalistas que têm tecido o insucesso de Ferreira leita na arena política em Portugal, e não os seus mais do que evidentes deméritos e incapacidade de liderança - seja no plano da estruturação de medidas realistas como alternativa ao PS que favoreçam a saída da crise em que mergulhámos, seja no plano da comunicação dessa mensagem em termos de opinião pública. Para Pacheco, está montada uma campanha negra em torno da sua líder com o fito de a afundar.

Ou seja, para Pacheco a Manuela não cometeu erros de substância e de forma. Para Pacheco a Manuela apresentou um programa de Governo no qual os portugueses se reviram, ela nunca hibernou e, já agora, também nunca foi oportunista ao colar-se aos sindicatos da fenprof (greve dos professores) e da CGTP em matéria de Código do trabalho. Na esfera da segurança e prevenção da alta criminalidade Pacheco acha que Leite andou bem, com a greve dos camionistas também, com a política económica - obrigando Paulo Rangel a dizer num dia que é contra as obras públicas e no day after dar o dito por não dito - Pacheco também entende que Leite é uma multidão de congruências...

De facto, a realidade não é como Pacheco a pinta, ela tem outros contornos, é povoada de outros factos que constroem outra narrativa em torno da sua líder e que explicam, não com os argumentos falsos de Pacheco, mas com os da própria realidade o rotundo falhanço socioeleitoral de Manuela Ferreira leite à frente do psd. De resto, qualquer militante de base do partido o afirma. Nesta óptica, Leite representou o maior embuste político do pós-25 de Abril.

E porquê?

As razões são múltiplas: em parte porque Leite construíu muito a sua imagem assente na sua autoridade em finanças públicas, obrigando o País a ver nela uma espécie de "Cavaco de saias", firme e dura a negociar, rigorosa e capaz de impôr a Portugal políticas fiscais e outras capazes de equilibrar o nosso crónico défice e, desse modo, endireitar o Estado. Ora, isto, como se provou pelas suas políticas fiscais em 2004, revelou-se um fracasso, saldando-se por meter um garrote ao empresariado no tempo do Governo Barroso.

Depois a respaldar Leite estava a mola presidencial - chamado Cavaco Silva, um amigo pessoal de Leite, com quem ela contou em muitos aspectos, até ao ponto em que começaram a ser contraproducentes. Designadamente a partir do momento em que Leite passou a operar como uma espécie de porta-vox não autorizado de Belém, ficando o País a saber o que Cavaco iria dizer ou fazer em matéria do Estatuto dos Açores, lei do divórcio e noutras matérias em que a Manuela - por atavismo político e alguma estupidez natural - não conseguiu manter reserva sobre tais conversas e matérias. Um desastre, portanto. Ao ponto de Manuela passar a representar um fardo político para Cavaco mais pesado do que o próprio Manuel Joaquim Dias Loureiro, à propos do caso BPN...

Depois porque Leite nas suas intervenções, e sempre que deixava de ler o seu guião escrito pelas fichas de Pacheco, só fazia afirmações verdadeiramente lamentáveis, como aquela do American club, ao defender o regresso da ditadura para facilitar a realização das reformas em Portugal. Mesmo que tenha sido um aparte, denota uma baixa cultura política e democrática - que no conjunto - fazem de Ferreira Leite um quadro impreparado e sem nenhuma vocação para uma função executiva como aquela que exige o lugar de candidato a PM.

Com feito, foram estas razões e não as que Pacheco adianta, que explicam o marasmo do psd e a situação política degradada em que Leite hoje se encontra. Mas o mais curioso em tudo isto, além da equipa de colaboradores de Leite que é verdadeiramente desastrosa, é que Pacheco não hesita em colar os resultados de Leite a uma campanha negra contra a sua líder, e em matéria de Freeport - quando de facto essa campanha negra existe (e até com requintes de malvadez) o mesmo Pacheco (já) não consegue ter elasicidade mental (ou honestidade intelectual) para encontrar aí motivos e razões suficientes para a qualificar da mesma forma, ou seja, uma verdadeira campanha negra.

Daí o sectarismo analítico e político de Pacheco, daí a sua incongruência e falta de honestidade intelectual. Pacheco sabe que a derrota de Leite é, acima de tudo, a certidão de óbito da sua própria actividade enquanto gúru desse grande embuste político chamado Manuela Ferreira Leite.

Será caso para dizer: estão bem uma para o outro. Mas uma coisa Pacheco - para retomar aquela metáfora analógica inicial - não pode continuar a fazer, que é iludir as pessoas tentando vender um T0 sito na Buraca como se tratasse de um T4 na Lapa com vista desafogada para o rio Tejo.

Voltará a não encontrar interessados nessa aquisição e os resultados verdadeiramente desastrosos...