quarta-feira

Faz falta em Portugal um (paul) Michel Foucault...

Temos aqui defendido que Portugal, além da crise e da srª Ferreira leite, tem outro problema: a falta de filósofos. Não de cartesianos reprodutores de sistemas e plagiadores de doutrinas franco-além atlânticos, mas sim de homens verdadeiramente criadores de ideias que inquietem saudavelmente o País, as instituições e a sociedade - para sair da mediania em que vegeta. Não seria exactamente a busca do "filósofo-louco", ao estilo de Foucault, mas a busca de alguém que soubesse interrogar a história, o estatuto científico das ciências sociais e desse um forte contributo à política, a actividade mais nobre de entre todas. O caso de Foucault tem a sua pertinência porque agora a agenda mediática e política discutem a possibilidade do casamento gay - avançada pelo PS - na linha, aliás, duma onda de modernidade comportamental que varre a Europa e cujo desfecho pelo SIM será inevitável. Mas o que aqui sublinho é a própria formulação do filósofo francês quando dizia:
  • Sempre que tentei fazer um trabalho teórico, foi a partir de elementos da minha própria experiência - sempre em relação com processos que eu vi desenrolarem-se ao meu redor. Era por pensar reconhecer nas coisas que via, nas instituições com que tinha que ver, nas minhas relações com os outros, brechas, abalos surdos, disfunções, que empreendia um tal trabalho - um qualquer fragmento de biografia.
Ora, o que seria desejável em cada um de nós, em cada português - que por vezes nem sabe bem o que é - seria aproveitar o método de Foucault e fizesse nascer um projecto intelectual, dar corpo a uma experiência que pudesse qualificar de originária, como quem inventa um novo carburador para um Porshe tornando mais económico o seu consumo, inventa uma nova teoria social que facilita a integração social, ou cria uma nova vacina como antídoto para uma doença.
Não sei o que sucedeu aos filósofos em Portugal, mas uns emigram para postos diplomáticos, outros estão velhos e já reformados - e a nova geração - que já deveria estar a aí a fervilhar e a produzir - ninguém os conhece, outros fazem aconselhamento como se fossem psicólogos clandestinos a dar consultas num vão de escada a imigrantes e o mais.
Significa isto que houve um tempo em que os médicos sucederam aos padres e aos polícias. Hoje o tempo é diferente, mas nem por isso deixa de acusar a carência de ideias, desafios e propostas que só os filósofos com formação verdadeiramente sistémica conseguiriam prestar ao País neste momentoso período da nossa história colectiva.
Numa palavra: se alguém vir por aí "um Foucault" à séria informe o Governo. Irá precisar dele...