terça-feira

Colapso - um livro de Jared Diamond -

Colapso - é um livro de Jared Diamond, professor de Geografia. O seu objectivo é compreender a razão pela qual umas sociedades colapsam - económica e ambientalmente, o que coloca desafios societais emergentes. O livro tem uma componente histórica acentuada - e já antes o autor se dedicou ao estudo do sucesso das sociedades em vários continentes em Guns, Germs and Steel: The fates of Human Societies.
O curioso é que hoje vivemos todos com os indicadores de desenvolvimento abaixo daquilo a que nos habituámos, e, provavelmente, os nossos hábitos de consumo, relação com o ambiente, de poupança de energia - terão de sofrer um intenso processo de reeducação.
A vida nas cidades também terá que inovar na forma de gerir os transportes públicos, as instituições terão que desenvolver um outro paradigma sobre o desenvolvimento. Ou seja, percebemos que o nosso mundo é hoje uma flôr de estufa: frágil, a crise financeira global veio mostrar que todos estamos atados - de pés e mãos, e que a desgraça de uns pode arrastar à desgraça dos outros num dominó perigoso. Portanto, para restaurar a confiança e a estabilidade perdidas - algo terá que ser feito.

Como diria, Diamond - cujas obras encerram inúmeras lições para o futuro, há que escolher bem as variáveis por meio das quais actuar, pois é através delas que as sociedades entram em colapso ou são bem sucedidas. O estudo do comportamento dessas variáveis ocupa o autor em centenas de páginas.

Mas o que me interessa aqui, nesta brevíssima apresentação, é perceber que o padrão de pensamento de Jared Diamond integra variáveis como a desertificação, a erosão dos solos, a perda da sua fertilidade, os problemas ligados à gestão da água, o excesso de caça e pesca, o crescimento desordenado da população, a mudança climática, o excesso de tóxinas no ambiente entre outras variáveis que debelitam as sociedades, conduzindo-as, no limite, ao "colapso".

Seguramente que o colapso do ex-Império Soviético teve raízes diferentes dos colapsos financeiros e económicos que hoje assistimos na América e pelo Norte da Europa - outrora rica, segura e sustentável no plano ambiental. Num ápice tudo se esfumou, e hoje andamos todos a lamentar-nos do mal que nos aconteceu, como se duma fatalidade se tratasse. Foi a incerteza que substituíu a certeza, o pessimismo que tomou o lugar da esperança e do optimismo.

Hoje o ambiente já não é de Guerra Fria, portanto aquele esforço financeiro constante para aplicar os recursos dos orçamentos de Estado em C & T virada para o campo militar já não existe de forma tão acentuada. Libertando esses recursos para uma gestão mais eficaz das economias e das sociedades apenas restam às instituições políticas e aos decisores que influenciam decisivamente o bem comum que só através de escolhas racionais e de melhores decisões públicas poderemos recuperar todos aqueles valores perdidos - mergulhados que estamos hoje em cada um dos nossos colapsos. Mormente a oposição em bloco que não se destaca com qualidade política para propôr soluções inovadoras, criativas e realistas para ajudar Portugal a sair da crise.

Seja como for, com maior ou menor realismo, o conceito - colapso - passou a integrar o nosso léxico, é hoje presença na gramática política e, infelizmente, assenta que nem uma luva na desgraça que aconteceu ao mundo dito afluente nos últimos anos. E só por isso - teremos matéria para meditar por uma longa e dura década.

Com menos colapsos, de preferência...