sexta-feira

O problema do PSD, hoje...

Podíamos dizer que o grande problema do PSD foi Cavaco, o "eucalipto" que secou todas as elites nas décadas de 80 e 90 do séc. XX. As que existiam, estão hoje em Bruxelas e na banca. São os casos de Durão Barroso e Fernando Nogueira. Outros quadros de valor técnico estão repartidos pela alta administração do Estado e das empresas, onde ganham bom dinheiro e não têm os inconvenientes do escrutínio diário dos media. E quando Ferreira leite decidiu candidatar-se ao Congresso de Guimarães e ganhou, muitos desses quadros - que fizeram carreira no cavaquismo, disseram a Ferreira leite: "nós aceitamos ajudá-la, mas com a condição de que os nossos nomes não figure nas listas". Ou seja, ninguém quis dar a cara pelo srª Ferreira. Isto é dramático. Mas foi assim.

E revela, à priori, um problema de concepção, depois a mensagem e a forma da comunicação é o que se sabe: um desastre. De modo que Ferreira leite está, na prática, entregue a si própria e a Pacheco Pereira, o mesmo é dizer: "à bicharada".

Num partido com vocação de poder, que teve Sá Carneiro como fundador isto é mais do que um drama, é uma tragédia. Até mesmo para o PS - que hoje carecia de um partido na AR que lhe disputasse com qualidade propostas políticas alternativas, ajudando-o a ser mais competitivo e exigente na estruturação de novas políticas públicas. Mas, na realidade, o PSD hoje não existe politicamente.

Alguém sabe para que serve o Instituto Francisco Sá Carneiro (???) - que presumo é dirigido por Miguel Relvas (uma esperança do psd!!!), e cuja missão seria, precisamente, estudar e propôr medidas políticas em todos os sectores da governação. Pura e simplesmente, o Instituto Francisco Sá Carneiro não existe, senão no papel. Ao menos ainda podiam entregar a direcção do Instituto ao Antonho Preto para ele organizar umas jantaradas com a malta das Escolas de condução e mais uns quantos - para animar a festa no Hotel Tivoli, da avenida da Liberdade. Mas nem isso... É, assim, um centro de "pensamento" que faz lembrar outros centros de pensamento nas academias, marca a sua existência com o nome do seu autor, apenas para vaidade própria. Não serve para mais nada.

A líder é o que é, uma senhora esforçada mas aquilo já não estica. O staff de apoio ainda é pior do que o gúru Pacheco Pereira. De resto, basta compulsar duas ou três declarações de António Borges para perceber a inconsistência e incoerência doutrinária das suas ideias. Resta quem: o Aguiar-Branco, o "songa-monha" do Marques-Guedes e mais uns quantos cuja valia política é igual a zero. Nem os BE os aceitaria...

Daí o vazio a que o PSd hoje chegou: um vazio de líder, de projecto, de identidade e de programa. Pedro Passos Coelho, como já aqui referimos, é, tão só - o jovem mais velho do PSD. É uma esperança desde a década de 80, hoje espera que a idosa caía da cadeira para lhe suceder. Apenas tem um palmo de cara e de presença, i.é, a imagem que falta a Ferreira leite. Por isso vai perorar para onde o convidam. Asssim-como-assim, sempre é preferível a Ferreira leite. Mas quando disserta acerca de economia, serviços públicos, sociais é um mar de contradições, até o oxigénio privatizaria.

E o drama reside neste nó górdio, no deserto da Lapa. Até porque quando, por alguma razão, o líder oficial (Leite) tem falta de credibilidade, as pessoas vão procurar liderança emocional junto de outra pessoa que admirem ou respeitem. Isto passa-se nas organizações em geral. E passa a ser esse "tal" líder informal/emocional (que neste caso, deveria ser Pedro Passos Coelho...) aquele que moldaria as reacções emocionais da base de apoio do PSD que hoje se sente órfão.

Ora, também aqui a massa eleitoral, os simpatisantes e militantes mais activos do PSd não se revêem em Pedro Passos Coelho, daí o vazio estratégico do PSD. Um partido que hoje evoca um grupo de jazz que tem o nome do seu fundador, mas que é junto da "esperança" que as bases procuram ver o músico que vai buscar as deixas emocionais que a líder não conseguem catalizar.

No fundo, o fundador, Francisco Sá Carneiro continua a inspirar os seus discípulos, mas o resultado da inspiração é tão mau que as marcações dos espectáculos são adiados, a logística não funciona, e até mesmo quando se trata de decidir da música que vai tocar ou ajustar o som ao ambiente - também ninguém se entende nessa coordenação de tarefas.
Talvez por isso a metáfora que melhor explique o estado a que hoje o PSD chegou seja aquele monte de cacos traduzidos na imagem...
É como se o PSD hoje mais não fosse do que um manequim da rua fanqueiros atingido por um míssil de Israel...