Lisboa vai ao Brasil. António Costa abre um precedente positivo na política autárquica
A liderança tem diversos estilos: o visionário, o conselheiro, o relacional e o democrático. Cada um deles gera um tipo específico de ressonância nas pessoas, nas comunidades, nas instituições. Hoje, como sabemos, vivemos tempos difíceis na empresa, no plano individual, nas famílias e até ao nível do Estado. Esta pressão constante, decorrente duma crise múltipla - que é financeira, económica e social, abate-se sobre cada um de nós, desafiando-nos consoante o grau de responsabilidade que cada um tem na vida em comum. É neste quadro que fará sentido perguntar o que foi António Costa, edil de Lisboa, fazer ao Brasil...
Antes disso devemos reter alguns dados simples acerca da capital: Lisboa passou por uma fase de intensa modernidade a partir da Expo 98, a região do rio Tejo sofreu uma profunda requalificação. O Parque das Nações representou esse ex-Libris na vida da cidade, as pessoas descobrem os jardins, os novos espaços multifunções (Pavilhão do Conhecimento, Atlântico) entre outros equipamentos culturais e de lazer. O teleférico, o casino, o gigante Oceanário são hoje a face duma Lisboa nova que já nada tem a ver com a Lisboa do fado, do futebol e das praias e dos monumentos históricos mais conhecidos da zona de Belém. Neste contexto de crise os políticos, os nacionais e os locais, têm, necessáriamente, de arregaçar as mangas e ir à luta. Ir à luta para valorizar o chamado Turismo sénior, de gama-média-alta, de negócios e short breaks. No fundo, hoje as nações, as cidades têm que se reinventar a cada momento e adaptar-se à conjuntura de forma realista. Ora, é neste quadro que devemos ler a visita do edil de Lisboa, António Costa, ao Brasil, como se retrata no artigo abaixo. As praias, o Allgarve já não são ou devem ser - apenas os únicos pólos de divulgação de Portugal no exterior. Se no passado recente muitos brasileiros vieram a Lisboa e passaram cá férias, contribuindo para uma boa taxa de ocupação da nossa oferta turística, parece uma estratégia inteligente, mormente numa conjuntura de recessão económica mundial, Lisboa sair do seu pedestal e mostar as suas potencialidades junto dos outros mercados, designadamente o brasileiro.
Sabemos que a CML não é o ministério do Turismo, não é a Agência Portuguesa de Investimentos nem sequer é o antigo ICEP, mas o facto de António Costa ter equacionado a ideia de ir ao Brasil promover as potencialidades turísticas da cidade de Lisboa - contribuindo até para o desenvolvimento do País no seu conjunto, só revela inteligência política, visão económica e uma apurada consciência estratégica acerca do posicionamento internacional de Lisboa em matéria de oferta turística.
No fundo, se o mundo não vem a Lisboa, Lisboa vai ao mundo. Insinua-se, revela as suas potencialidades turísticas e as infra-estruturas aeroportuárias numa estratégia de captação de turistas e de recursos. O que é novo nesta estratégia, porventura, pressionado pela conjuntura recessiva, é que um autarca chamou a si esse papel de "agência" e promoção de interesses turísticos da capital, e os promoveu directamente no exterior. Com este lance António Costa demonstrou inexistir hierarquias e formalismos estéreis na forma de fazer política local - sempre que estão em causa interesses económicos maiores que urge promover. Era, precisamente, este tipo de iniciativas que muitos de nós esperariam ver fazer o Presidente da República - a partir de Belém - no quadro da captação de Investimento Directo Estrangeiro (IDE). Eis a diferença entre a promoção turística da cidade e o turismo diplomático.
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