segunda-feira

Notas Soltas de António Vitorino

António Vitorino colocou a tónica no nó górdio do Freeport-affair com base:
  • Numa campanha negativa dinamizada a partir de fugas selectivas de informação oriundas da "República dos magistrados & juízes" (a expressão é minha) que orientam essas fugas;
  • o resto é potenciado pela concorrência desenfreada entre os media em busca de mais-e-mais "pasto" para alimentar "o gado", pois deve ser assim que a nossa comunicação social, ou parte dela, olha para a opinião pública nacional. O caso ligado à mudança de casa da Mãe de Sócrates, revela bem essa tremenda má fé e espiral de violência dos media. Desta feita por um tal Josué Manel Mestre da Sic - com uma peça de jornalês típica do jornalismo de excelência ou da excelência de conteúdos 3º mundistas de Arthur Albarran, perdão, Mário crespo.
  • A carta rogatória, outra fuga, também nos vem dizer que há areia no deserto, água no oceano e, por enquanto, ainda algum oxigénio por aí. É só novidades, portanto!!!
  • Importa é que a drª Cândida Almeida siga o rasto do dinheiro, cruze as linhas, identifique os players e depois faça a tal Auffassung - a síntese que reconstroi essa ligação com as suas causas e os efeitos a fim de descobrir a verdade por efeito de reconstituição em sede de investigação criminal.
  • AV inclina-se mais para tráfico de influências do que para o crime de corrupção.
  • Relativamente à reacção do PR, Cavaco e Silva, que fazia que jogava uma partidinha de golfe, por regra uma modalidade para onde confluem aqueles que já perderam a força para jogar ténis, a coisa foi bem definida pelo analista: "desajeitada".
    De facto, desconheço se António Vitorino estava a tentar caracterizar a conduta de política geral do sr. PR nos últimos meses, ou se apenas se reportava à expressão utilizada por cavaco em matéria de Outlet de Alcochete: "assunto de Estado", se assim se pode dizer..." - Cavaco dixit. Foi, pois, uma verdadeira expressão de Alcochete, para não dizer à Olhos d´Água, mais a Sul...
    Por vezes, a falta de vocabulário e uma baixa cultura política (e democrática) originam equívocos semânticos que deturpam o sentido das coisas. Já Manuela Ferreira leite - também reclamou a "ditadura" para implementar reformas em democracia. Assim-como-assim, prefiro os tiques soit-disant autoritários de Sócrates - áquelas bernardas provincianas misturadas com tacadinhas de golfe armado aos cucos. De facto, cavaco ao "ganhar distância" no caso Freeport - pensou que assim deixaria o seu adversário político em lume brando e capitalizar alguma coisinha na sua fase pós-Estatuto dos Açores.
    Na prática, fez o joguinho da oposição, e, por omissão, serviu de fósforo-molhado a Ferreira leite - que, paradoxalmente, desce cada vez mais nas sondagens. Ninguém a quer. Nem o seu próprio partido. Nem aqui Cavaco se eximiu de estender o seu longo e silencioso braço à sua ex-pupila, a srª Ferreira. Foi, pois, uma má tacada..., "se assim se pode dizer".
    Em gíria golfeira - se assim podemos dizer: o buraco continua por preencher e a bola ainda está perdida no relvado... Talvez o sr engº João de Deus Pineiro possa dar uma ajudinha, com uma 2ª tacadinha...
    O problema reside no desemprego, e aqui Cavaco nem o taco mostra. Ele só sabe é revelar as cartas dos pobres que recebe na secretaria de Belém, revelar um antagonismo pouco democrático em relação à lei do Divórcio, propôr soluções que ajudem a minorar esse flagelo - Zero. Nem ele nem os assessores que também não devem pensar nada acerca dos problemas sociais que atingem o País.
    O exemplo dos 20 milhões de chineses que terão regressar aos campos, a discriminação inglesa relativamente aos trabalhadores portugueses e italianos no RU (que pode originar um proteccionismo de base nacionalista em toda a Europa verdadeiramente perigoso), o exemplo da Qimonda e de muitas outras unidades industriais - que encerram deixam-nos a pensar acerca do melhor destino para a vida de milhares de pessoas, da reorganização do trabalho e da economia e até da própria vida em sociedade. Parece que, de súbito, muita coisa deixou de fazer sentido.
    Provavelmente, o Estado-social, "paisinho" de todos nós, ou de muitos de nós, terá aqui que reforçar as suas dotações orçamentais para intensificar e alargar a base social de apoio aos desempregados e às famílias mais carenciadas, cabendo também um papel crescente às autarquias na coparticipação dessa tarefa social em Portugal, dadas as relações de proximidade dos governos locais relativamente aos problemas das pessoas.
    Numa palavra: em matéria de Outlet alcocheteiro o pão & circo centrado no PM esgotou-se, os media terão agora de reorientar as suas baterias para essas coisas chatas e sujas decorrentes das coberturas jornalísticas às empresas, aos sindicalistas, à saúde, à educação e conexos.
    No fundo é o castigo ou o TPC por o "pudin" do Freeport não ter abatido o PM em funções, e agora todos terão de regressar ao trabalho, até o sr. Presidente da Repúbica, se assim podemos dizer...
    Destas palavras identificamos bem o retrato daquilo que somos: um País desajeitado, e reconhecer isto dói.
    Como já dizia Camões: um fraco rei faz fraca a forte gente.