segunda-feira

Auffassung e a má fé tipicamente lusitana: freeport é já um study-case

A natureza gosta de se esconder, como alguém diria. A realidade esconde-se, ou está coberta com um manto de verdura - até que o homem descubra o que se encontra sob aquele manto. O caso Freeport é já um study-case que prefigura esse esconderijo da "verdade", que hoje urge ser reconstruída. Mas aqui há um perigo: o perigo da reconstrução. Ou seja, se ela se faz atabalhoadamente, apenas para encontrar um bode expiatório (no caso o PM em funções), ou se essa reconstrução se faz por apego à efectiva realidade dos factos. Esta religação, esta síntese é que é a Auffassung que todos buscamos no caso do Outlet de Alcochete - que tem despertado muitas paixões e inúmeras sacanagens por parte da mediacracia vigente, que precisa de vender títulos e manter os postos de trabalho, especialmente entre a classe dos jornalistas - que hoje enfrenta a possibilidade do desemprego.
Já se vê que a tese mais plausível, em face dos dados disponíveis, é que os consultores Smith & Pedro ou receberam "tú-tú" dos promotores em Inglaterra ou não receberam. Apenas importa considerar aquela hipótese - já negada pelos próprios, o que não significa que não tenha havido extorsão da parte deles. Nesta leva os então titulares do Ministério do Ambiente foram envolvidos, por efeito de arrasto, já se vê. Sem termos a certeza que esta é a verdade, é aquela hipótese que hoje se afigura como a mais plausível - na reconstrução dessas ligações com as suas causas e os seus efeitos a fim de descobrir o sentido da realidade. A tal Auffassung.
Hoje vemos os media num frenesim, num banquete que parece adivinhar o fim de festa mas, de facto, aquilo que os media responsáveis deveriam fazer era um esforço de documentação, de investigação, de actualização permanente dos conhecimentos, de verificação e de aprofundamento. Mas a tal carta rogatória do RU parece ter funcionado como coca na tola dos nossos jornalistas, afinal a tal carta nada de novo adiantava relativamente a 2005, onde o que verdadeiramente foi relevante foi aquilo que foi apurado pelos famosos "encontros da Aroeira", onde hoje algumas pessoas são cúmplices desses esquemas como contrapartida de cavalgar ondas jornalísticas e até de ter uma presença em certos pasquins a troco dum prato de lentilhas.
Gente sem escrúpulos, portanto. São os mesmos que hoje escrevem umas notas para no day after, na ânsia de se serem abrangentes e sistémicos, escreverem outras de sinal contrário. Depois são acusados de paranóicos, pessoas desequilibradas, com a mania da perseguição e trapalhões, porque em 24h conseguiram defender uma coisa e o seu contrário, rodopiando sobre si próprias. São essas pessoas (cunhadas até pela própria blogosfera - que as cita para o qualificar de "lé-lés" da cuca), algumas blogueiros encartados, que também alinharam nesta campanha negra e suja - que evidentemente está em curso para assassinar politicamente o PM em funções. São os maquiavéis armados em kantianos, outras vezes são estes procurando armar-se em maquiavéis. É a típica esquizofrenia que tolhe o cérebro de alguns encartados do milieu.
Mas o que importa, sejamos ou não defensores do poder em funções, é que adoptemos uma atitude reflexiva neste caso do Freeport, nunca deixar de saber pensar, sob pena se sermos comidos por parvos, de encher a boca com meias verdades com uns pósinhos de relatos fabulados que a sociedade digere todos os dias - dentro e fora da academia - dentro e fora da empresa. Tudo por causa do comunicador-cagão e precipitado, egocêntrico por natura que adora citações - mas é impotente (porque complexado) para citar aqueles que fazem melhor, de longe, do que eles próprios.
Infelizmente, o Freeport não é em Alcochete, é, antes de mais, um estado de espírito, uma maneira de ser, uma forma de actuação típicamente portuga e irreflexiva, confusionista, superficial. Ao mesmo tempo canalha e frívola, nem que para o efeito (de compensação) no day after escrevamos outro textinho sabujo dizendo o contrário daquilo que escrevemos de véspera - num caldo de cultura típicamente esquizofrénico e insustentável. Quem sabe um pouco de psicologia aplicada conhece estes "cromos" à legua, até pelo andar...
Portugal é hoje esse País sitiado de si mesmo, labiríntico, desconfiado, sobranceiro, sempre pronto para enfiar a faca naquele com quem se bebeu café na véspera, invejoso, maledicente. Um país-canalha. Tudo isso tolhe a lucidez com que devemos olhar para as coisas tal qual elas são, e não como desejaríamos que elas fossem.
Daí a importância do discernimento para desenvolvermos uma capacidade de julgamento e uma atitude crítica que nos impede de seguir aquela corrente de má fé, invejosa, diletante e cobarde - interessada no ataque pela insídia e pela calúnia - ainda que no day after se escreva outro tratado em prol da absolvição do "réu". É a velha técnica de sobre uma mesma realidade escrever duas cartas de efeito contrário, para no momento da grande verdade esse "grande artista", que vem da universidade - onde foi humilhado e aprendeu a humilhar os outros, com extensões à empresa e outras organizações, se revelar o grande apoiante da verdade revelada. Quem não os conheça, que os compre...
De facto, o caso freeport tem revelado mais acerca da personalidade colectiva dos tugas que na valeta da blogosfera regorgitam os seus ódios de estimação - do que propriamente em relação à peça processual. Os media atiram a matar, na ânsia de vender e dizerem: fomos os primeiros; a PGR limita-se a deixar passar as fugas de informação numa clara violação ao segredo de justiça; a oposição aproveita cinicamente a campanha negra na esperança de que o tempo corra a seu favor; as autoridades judiciais cansam-se a explicar a demora das cartas rogatórias, mas não explicam a razão de ser do adormecimento do processo nem as ditas fugas. No fundo, nada funciona normalmente no País, e depois ainda definem Portugal como estando organizado como se de um Estado de direito se tratasse.
Hoje a única garantia que temos contra o perigo de sermos manipulados e violados psiquicamente reside, precisamente, na nossa capacidade discernimento. Porque se formos a afinar a razão pelos jornais, pelas estações de televisão e conexos - acabamos por perceber que já vivemos há muito num grande manicómio - cujas regras permitem que uns maluquinhos procurem convencer os seus irmãos de aqueles é que têm razão.
O caso Freeport veio acentuar a nossa tacanha maneira de pensar e de ser, mas se vantagem houve foi chamar a atenção de que a sabedoria do homem que pensa reside em descobrir a verdade diante do que não é evidente, enquanto que a idiotice do tolo, ainda que disfarçado de intelectual, consiste em chamar novidade ao que é evidente. Infelizmente, no nosso tempo abundam as pessoas formadas em "acontecimentologia" - que registam muitos acontecimentos - mas rareiam as que conhecem as suas causas e podem prever as consequências.
O caso freeport não será apenas uma derrota para a oposição política e das corporações em toda a linha, será, sobretudo, uma denúncia dessa típica e tacanha maneira de pensar lusitana que faz sistemáticamente da má fé, da inveja, do conluio e dum conjunto de ódios recalcados o seu principal cânone que dá luz não apenas ao seu "pensamento" como anima a sua personalidade.
Luís Vaz de Camões tinha toda a razão quando terminou Os Lusíadas da forma como terminou. E essa invejasinha ainda continua a alimentar os neurónios pouco criativos dessa sub-gente que por aí passeia a sua esquizofrenia disfarçada de pseudo-inteligência ambulante.
Em pleno III milénio, pensava que isto só tolhia os idosos de 90 anos, mas não...